terça-feira, 17 de novembro de 2009

Pais devem incentivar autonomia nas lições


Karina Toledo - O Estado de S. Paulo

Pesquisa mostra que 65% acompanham o dever de casa dos filhos; educadores alertam que apoio familiar não pode substituir a escola
Quem é pai ou mãe sabe como é difícil ficar indiferente quando o filho vem cheio de dúvidas sobre a lição de casa. Há aqueles que, quando dominam o assunto estudado, tendem a bancar o professor particular. Outros têm de se segurar para não fazer a tarefa pela criança. A importância do envolvimento paterno na vida escolar é consenso entre educadores. Mas até que ponto essa interferência é benéfica?
"O ideal é que o pai dê subsídios para que a criança possa resolver a questão e saia de cena. É preciso estimular a autonomia", afirma Silvia Colello, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.
Uma pesquisa divulgada na semana passada pelo movimento Todos Pela Educação revelou que 65% dos pais nas regiões metropolitanas acompanham com frequência a realização da lição de casa. Foram ouvidas 1.350 pessoas nos Estados da Bahia, Ceará, Pernambuco, Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e no Distrito Federal.
"Quando a criança chega com a lição perfeita porque o pai ou a mãe corrigiu, o professor perde a noção de quanto ela de fato aprendeu e do quanto precisa ser retomado", explica Silvia. Para ela, a lição tem três papéis principais: exercitar uma competência que foi dada em aula, estimular hábitos de leitura e aprofundar um tema estudado por meio de pesquisa.
A especialista em práticas do ensino Neide Noffs, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, concorda. "A lição é um exercício de revisão", diz. Neide admite que é difícil ver um erro e deixar passar, mas aconselha que o pai tente ajudar a criança a chegar sozinha na resposta certa. "Se o filho não conseguir, a dúvida deve ser devolvida à escola".
Edimara de Lima, coordenadora pedagógica da escola Prima Montessori, acredita que o principal papel dos pais é apoiar a criança nos treinos de leitura. "Até que ela se torne um leitor fluente e tome gosto pela atividade é fundamental o apoio da família", diz. Ela recomenda que os pais leiam em voz alta, enquanto a criança acompanha o texto com os olhos.
A psicóloga Renata Rubano, de 44 anos, recorreu a essa técnica quando o filho João, de 12 anos, demonstrou dificuldades. "Ele fugia dos livros. Então resolvi ler junto até que ele começasse a gostar da história. Alguns capítulos ele tinha de ler sozinho e me contar. Deixou de ser uma atividade solitária".
Como trabalha o dia inteiro, Renata sempre acompanhou de longe a vida escolar de João e Helena, de 9 anos. "Não ajudo na lição, mas fico de olho para ver que tipo de dificuldades eles têm e para avaliar a escola".

DICAS

Tarefas: nunca antecipe a resposta correta de uma questão
Dúvidas: se a criança não souber resolver um exercício, tente explicar de forma diferente, para que ela o solucione sozinha
Espaço: ajude a organizar um local e horário para o estudo
Pesquisas: mostre livros ou sites em que a criança pode encontrar sozinha o conteúdo
Leitura: ajude seu filho a criar o hábito lendo textos para ele

domingo, 8 de novembro de 2009

Avaliação de Pais







Rosely Sayão - Folha de S. Paulo



Conversei com um jovem universitário que queria abandonar a faculdade. Ele está no segundo ano de um dos cursos mais procurados de uma universidade pública reconhecida.




Sua vida escolar até então havia sido plena de êxitos: dedicado, cumpria todas as obrigações escolares sem dificuldade.


Por que queria desistir agora? Seus pais estavam chocados. Ele não tinha resposta para tal questão. Pela conversa que tivemos, percebi que seus estudos não faziam parte de sua vida, ou seja, ele não se apropriara deles, tampouco desfrutara de suas conquistas. Estudar não fazia sentido para ele.


Esse jovem me fez pensar em muitas coisas, entre elas nessa ânsia dos pais para que seus filhos tenham êxito escolar. E é nesta época do ano que as consequências desse anseio explodem. As crianças que terão de fazer a recuperação no final do ano estão em maus lençóis.


Muitas já estão com a agenda ocupada com aulas particulares. Nas férias, lá vão elas para estudos dirigidos e aulas de variadas disciplinas. E sob intensa pressão, já que professores regulares, particulares e pais afirmam que elas têm pouco tempo para aprender muito conteúdo. E todos trabalham em conjunto para que essas crianças encham a cabeça de informações em pouco tempo.


Outras estão em situação pior ainda: já receberam dos pais a ameaça ou o aviso da perda de viagens de férias, presentes de fim de ano e outras gostosuras porque não se dedicaram aos estudos durante o ano.


E há também aquelas cujos pais quase se conformaram com o resultado escolar do filho porque conseguiram dar um nome a isso. Hoje temos uma infinidade de crianças com diagnósticos como dislexia, discalculia, transtorno de deficit de atenção etc. As crianças padecem com o excesso de diagnósticos e de tratamentos.


Por que decidimos exigir tanto de crianças e de adolescentes na escola? Por que achamos que eles devem se interessar mais pelo estudo do que pelas brincadeiras, festas, namoros e tudo o mais que realmente importa nessas fases da vida? Talvez porque a vida escolar deles sirva atualmente de índice de avaliação da paternidade.


O filho recebe ajuda em casa com os estudos? Tem bons pais. A criança tem bom rendimento escolar? Tem pais dedicados. Os pais dos alunos comparecem sempre às reuniões?


São presentes na vida dos filhos. O adolescente tem bons resultados no Enem ou boa classificação no vestibular? Seus pais são bem avaliados.


É por isso, provavelmente, que os estudos e a escola se transformaram, hoje, em assuntos que dizem mais respeito aos pais do que aos estudantes.


Não é de se estranhar, portanto, que tantas crianças e jovens aprendam bem menos do que poderiam na escola: porque não são exigidos nem cobrados por eles mesmos, e sim para atender às expectativas de pais e professores. Poderia ser bem diferente, não poderia?

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Revista Estudos Feministas

Print version ISSN 0104-026X

Rev. Estud. Fem. vol.13 no.2 Florianópolis May/Aug. 2005

doi: 10.1590/S0104-026X2005000200017

RESENHAS

As novas formas de organização familiar: um olhar histórico e psicanalítico

Adriana Rodrigues

Universidade Federal de Santa Catarina

A família em desordem.

ROUDINESCO, Elizabeth.
Tradução de Renato Aguiar.

Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003. 199 p.

Neste livro a psicanalista Elisabeth Roudinesco percorre o caminho da história da construção da família, atravessando os percursos psíquicos, políticos e econômicos que forneceram elementos para a construção dessa instituição, desde a antigüidade até a "pós-modernidade". Demarca os períodos e acontecimentos em oito capítulos intitulados "Deus pai", "A irrupção do feminino", "Quem matou o pai", "O filho culpado", "O patriarca mutilado", "As mulheres têm um sexo", "O poder das mães" e "A família do futuro".

Ao analisar a família ocidental, Roudinesco destaca três importantes períodos caracterizados por diferentes formas de organização familiar. No primeiro período forma-se a família tradicional pautada na preocupação com a transmissão de um patrimônio. Em um segundo momento a família passa a ser construída como fruto do amor romântico. E posteriormente a família moderna, contemporânea ou pós-moderna, fundamenta-se no amor e no prazer, com uma característica de atemporalidade, ou seja, a união dura enquanto durar o amor e o prazer. Para falar dessas três fases percorre, à luz da psicanálise, o caminho da história da formação das comunidades, das nações, do Estado, das religiões.

Roudinesco apresenta o pai da família tradicional como a encarnação familiar de Deus. Sua autoridade jamais era contestada, e sua figura era sagrada: a imagem do Deus do Velho Testamento, do herói e do guerreiro. Com as transformações econômicas e políticas a autoridade paterna, imposta pela força, vai progressivamente perdendo espaço, e surge a reivindicação pela paternidade inspirada no Deus do Novo Testamento, um pai amoroso e amado, tolerante e respeitado. A família formada pela figura desse pai que respeita um "contrato social" é caracterizada pela compaixão.

Nessa nova família onde impera a compaixão, o pai aos poucos vai sendo destituído de autoridade e começa então a ressurgir a figura do feminino. O pai não é mais visto como o único responsável pela transmissão "psíquica e carnal" e a mãe assume responsabilidades nessa tarefa. Começa o temor da feminilização da sociedade.

O pai do início do século XIX, fragilizado por perder o lugar de um deus soberano, e conseqüentemente por perder a influência sobre o Estado, consegue se fortalecer através da economia. Tendo como modelo a figura cristã de José, carpinteiro e um patriarca amável, o novo pai constrói a partir de então a família econômica que caracterizou a "idade de ouro do paternalismo europeu". Como "pater famílias da coletividade industrial" assumiu a defesa da família contra a ferocidade do capitalismo nascente. Com a mesma coragem faz a defesa do operário, protegendo-o e fornecendo-lhe serviços de assistência básica. Assume então a função de "padre-padrone".

Seguindo a análise da autora, forma-se então a família econômico-burguesa, que se fundamenta na autoridade do marido, na subordinação das mulheres e na dependência dos filhos. Contudo, não é mais uma autoridade despótica; sua força é regulamentada pela lei do Estado (Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, França, 1789). O Estado passa assim a acompanhar e intervir na vida familiar, em virtude da importância econômica que as famílias passam a desempenhar, tornando-se uma das estruturas de base da sociedade, "pois sem ela o Estado só poderia lidar com massas despóticas ou tribais" (p. 40).

Roudinesco afirma que essas novas convenções exigem que o pai seja justo, submisso à lei e respeite os novos direitos adquiridos. Da mulher exige-se que seja "acima de tudo mãe, a fim de que o corpo social esteja em condições de resistir à tirania de um gozo feminino capaz, pensa-se, de eliminar a diferença dos sexos" (p. 38). O casamento ganha outra face, perdendo a natureza divina e se consolidando como um acordo consensual entre um homem e uma mulher com duração relativa à durabilidade do amor. É o precedente para a instituição do divórcio na França em 1792.

Os recém-adquiridos direitos e deveres impõem ao pai o dever de respeitar o direito dos filhos. Se o comportamento do pai não estivesse de acordo com esses pressupostos, ele poderia perder o direito de ser pai. Surgia então o temor de que a sociedade fosse dominada pelas mulheres.

No campo teórico os debates sobre matriarcado x patriarcado entram em ebulição. Autores como Morgan e Engels assumem o eixo central das discussões sobre família. Posteriormente, Freud insere-se nessa discussão, entendendo que a humanidade teve um salto qualitativo ao passar do matriarcado – mundo do sensível – ao patriarcado – mundo da razão. Entretanto, Freud, ao contrário de muitos de seus contemporâneos, não demonstrava temor a um possível domínio do feminino, muito menos de que este pudesse significar o declínio da razão.

Roudinesco acredita que a família do século XIX certamente foi abalada e reestruturada a partir da invenção freudiana do complexo de Édipo.

A família edipiana é fundada no assassinato do pai pelo filho que deseja a mãe, e que começa a questionar a autoridade patriarcal. Da mesma forma, as filhas iniciam os seus questionamentos na tentativa de romper com a autoridade materna e alcançar a emancipação sexual. Essas descobertas ocorreram em um clima de terror apocalíptico diante de uma possível supressão das diferenças entre os sexos.

Para a autora, a fim de assegurar a cada um o seu lugar, ou seja, afirmar as diferenças entre sexos, pais, filhos e gerações, Freud reúne os fragmentos que restaram da sociedade patriarcal e coloca o pai com toda a glória e divindade de outrora, reinando atemporalmente no inconsciente, através da invenção do complexo de Édipo. Estabelece, portanto, de forma simbólica as convenções necessárias para a manutenção da família, que tem como eixo central a idéia da culpa.

O filho culpado por desejar a mãe, e assassinar o pai, torna-se um neurótico atordoado por seus "escrúpulos e remorsos". Para representar esse momento do drama, Freud escolhe o personagem de Shakespeare Hamlet, que seria então o Édipo adulto. Édipo é atormentado por um inconsciente desejante. Já Hamlet, carregando as conseqüências da tragédia edipiana, é um adulto dominado por sua consciência de culpa.

Através do sofrimento de Hamlet, Freud fala simbolicamente da condição de sofrimento do homem do século XIX, ao descobrir a existência do inconsciente e perceber que não detinha o controle de si, dos seus desejos e emoções. Não bastasse isso, descobriu também com Copérnico que não detinha o controle do universo, e com Darwin que não tinha uma origem tão divina e gloriosa como imaginava. Diante disto, e "Condenado a jamais ser rei, o herói do novo século galileiano busca sua identidade. Pode ele advir como um sujeito sem se desfazer de sua soberania de direito divino? Eis a questão" (p. 69).

Roudinesco assegura que de Édipo a Hamlet Freud buscou pensar a família procurando seu lugar simbólico nesse novo momento, tendo como realidade concreta a decadência da família burguesa vienense. Uma família que não era mais formada por um pai autoritário, ou mesmo por um pai que, desprovido do poder divino, garante o poder econômico e o bem-estar geral, mas ao contrário uma família dirigida por um filho que recebeu como herança a "figura destruída de um patriarca mutilado".

A autora aponta a família edipiana como o "paradigma do advento da família contemporânea", pois, ao colocar o complexo de Édipo como uma estrutura psíquica universal, universalizava-se também um modelo de relação conjugal entre homens e mulheres que se fundamentava no desejo e não mais na coerção das conveniências familiares. Assim, para a psicanálise, o amor e o desejo, o sexo e a paixão estavam fundamentalmente presentes nesse novo momento do matrimônio.

A nova organização familiar partindo do modelo edipiano sustentava-se em três pilares: "a revolução da afetividade, que exige cada vez mais que o casamento burguês seja associado ao sentimento amoroso e ao desabrochar da sexualidade feminina e masculina; o lugar preponderante concedido ao filho, que tem como efeito 'maternalizar' a célula familiar; a prática sistemática de uma contracepção espontânea, que dissocia o desejo sexual da procriação, dando assim origem a uma organização mais individual da família" (p. 96).

Com a maternalização da família, o poder do pai passou a ser cada vez mais abstrato, e contava unicamente com seu patrimônio para afirmar seu lugar simbólico. Já o filho assume uma posição mais central na família e deixa de ser visto como um objeto, para se colocar como um sujeito que significa uma continuidade ou um prolongamento dos pais, passando então a ser desejado. O lugar da mulher em progressiva emancipação a partir do final do século XVIII – graças à organização do feminismo em movimento político – é ampliado sobretudo no campo da sexualidade. Na medida em que tem o prazer dissociado da finalidade de procriação, deixa de ser apenas esposa e mãe e vai se individualizando.

Ao perder o lugar de divindade, os homens perdiam também o controle sobre o corpo das mulheres, abrindo espaço para o desabrochar da sexualidade feminina, que surge fundada ao mesmo tempo sobre sexo e o gênero.

Com o avanço tecnológico da biomedicina, as mulheres conquistaram o controle não apenas do corpo mas da procriação, podendo, além de controlar a concepção, prescindir da participação direta do homem para a fecundação. Analisando esses fatos, Roudinesco afirma que "um fosso irreversível parece ter se cavado, pelo menos no Ocidente, entre o desejo de feminilidade e o desejo de maternidade, entre o desejo de gozar e o dever de procriar" (p. 146).

A possibilidade de formar uma família sem a necessidade do coito sexual, ou simplesmente de não desejar a maternidade, acompanhada por um crescente envolvimento dos homens na criação dos filhos, acena para uma necessidade de se repensar a instituição do casamento.

Todas essas transformações no modelo familiar tornaram essa instituição acessível também aos homossexuais, que sempre foram dela excluídos. A partir de 1965 gays e lésbicas passaram a reivindicar o direito a paternidade/maternidade e "inventaram uma cultura da família que não passava, sob muitos aspectos, da perpetuação do modelo que haviam contestado e que já se encontrava ele próprio em plena mutação" (p. 181). De qualquer forma, transgrediram uma ordem moral que já durava mais de 2 mil anos.

Chegando nesse ponto do percurso histórico, Roudinesco afirma que, ao contrário do que se pensou, a família não se dissolveu, mas se reorganizou de forma horizontal e em redes, garantindo a reprodução das gerações. O casamento perdeu o ornamento da sacralidade, e em constante declínio é hoje caracterizado pela união afetiva de cônjuges – com filhos ou não – que, buscando o refúgio das desordens do mundo exterior, unem-se não mais por uma vida, mas por um período aleatório que, como em mais de um terço dos casos, termina em divórcio, na maioria das vezes solicitado pelas mulheres, que ainda são as que inicialmente mais sofrem com os encargos dessa ruptura. Os filhos são freqüentemente concebidos fora dos laços matrimoniais, e esse quadro, que já aterrorizou muito, mostra-se hoje com naturalidade e comprova que a civilização não foi engolida por essas "desordens".

Roudinesco finaliza sua análise assegurando que, apesar das constantes transformações ocorridas na família ao longo dos séculos, ela continua a ser reivindicada por homens, mulheres e crianças, independentemente de idade, orientação sexual e classe social. Para a autora, a família "aparece em condições de se tornar um lugar de resistência à tribalização orgânica da sociedade globalizada" (p. 199), mas ressalta que para tanto a família do futuro precisa ser continuamente reinventada.

sábado, 19 de setembro de 2009

Paciência em Falta


ROSELY SAYÃO - Folha de S. Paulo


A ideia de ter filhos hoje é absolutamente sedutora. Tornar-se mãe ou pai é um fato que nunca pareceu tão importante porque é visto como modo de se realizar, de se completar, de cumprir uma missão importante. Não é à toa que tantas mulheres recorrem a procedimentos médicos diversos para conseguir engravidar. Definitivamente, consumimos a ideia de que ter filhos é fundamental.

O período de gestação é cercado de acontecimentos que se parecem com pequenas festas para os futuros pais. Compras dos mais variados tipos, durante meses consecutivos, são consideradas indispensáveis: além do enxoval para o bebê, há as vestimentas para a futura mãe, que, em geral, não vê a hora de exibir sua condição.

Aliás, um bom exemplo de como exibir a gravidez é tão importante quanto estar grávida são as entrevistas, as fotos e o modo de se apresentar de artistas que esperam um filho. Além das compras, são contratados vários prestadores de serviços e um aparato médico-hospitalar que inclui muitos exames -e não me refiro aqui ao essencial, que constitui o pré-natal.

Depois do nascimento, a cortina desce progressiva e vagarosamente e o clima de festividade cede espaço à realidade: ter filhos, o que exige cuidar deles e educá-los, dá trabalho. Um trabalhão, por sinal. Nos primeiros anos, são noites maldormidas, trabalho braçal árduo, atenção constante e o contato com um universo radicalmente diferente do nosso: o mundo da imaginação e da fantasia.

Além disso, ensinar a criança a estar com os outros não é tarefa simples porque os pequenos não se controlam e, portanto, por mais que entendam as ordens e orientações dos pais, precisam ser seguidos de perto e contidos sempre.

Na segunda parte da infância, os pais precisam começar a exercitar o desprendimento em relação aos filhos, já que eles precisam crescer e a vida escolar é o campo onde isso ocorre de modo privilegiado. Na adolescência, os pais são testados continuamente e não podem abandonar seu papel até que o filho amadureça, de preferência como uma pessoa de bem, para viver por conta própria.

Todo esse processo exige, mais do que qualquer outra coisa, muita paciência. Aliás, creio que essa seja a virtude mais necessária a quem tem filhos. E, do mesmo modo, a que tem estado mais em falta atualmente. Os pais têm tido pouca paciência com as manifestações próprias da criança pequena, com o crescimento do filho -que tem um ritmo próprio-, com as contestações dos adolescentes. Acreditam que os filhos os fazem insistir demais nas mesmas coisas.

Pois os pais precisam saber que, por mais ou menos 18 anos, irão repetir as mesmas coisas. "Ainda não" e "agora chega" condensam as mais importantes repetições; mudam apenas os conteúdos delas, de acordo com a idade dos filhos. Os pais não podem dizer que não têm paciência no exercício de seu papel. Quem tem filhos precisa desenvolver essa virtude a qualquer preço. Sem ela, os mais novos ficam na situação de órfãos de pais vivos.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Convivência familiar



A educação de jovens e crianças passa por três segmentos: a família, a escola e a comunidade, que são instituições fundamentais na formação do cidadão e na sua preparação para o trabalho. Dessa forma, sendo a família a primeira escola do ser humano, é responsabilidade dos pais suprir necessidades básicas de seus filhos, formar atitudes e valores. A função da família é fundamental para a formação do futuro cidadão, preparando-o para a vida e para o trabalho. A família deve ser a base e a principal colaboradora das atividades desenvolvidas pela escola na comunidade. A Constituição Federal determina que é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária... (Art. 227). Portanto, cabe aos pais orientar, assistir e educar seus filhos, tendo a convivência familiar como um importante instrumento para o desenvolvimento do ser humano. Nesse contexto, na agricultura familiar, tem-se um exemplo bem claro da importância da convivência familiar na educação da criança e do adolescente. A convivência é, sem dúvida, a estrutura fundamental da família, e este direito deve ser preservado e usado para a formação moral e ética do grupo familiar. E nessa formação está a preparação para o trabalho, item fundamental para a formação de um cidadão consciente. A tarefa da família de preparar para o trabalho deve ser vista e executada como uma atividade de educação, onde os pais têm o compromisso de passar o seu conhecimento, levando em consideração os aspectos culturais e sociais da sua comunidade. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) diz que é proibido qualquer trabalho a menores de quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz (Art.60). Ensinar a trabalhar não é o mesmo que colocar a trabalhar, pois entende-se como trabalho infantil aquele que a criança faz para garantir o seu sustento ou de sua família, e, por isso, tem características de trabalho continuado, comprometedor da frequência escolar e da aprendizagem, das possibilidades de fazer coisas de criança, da saúde e do desenvolvimento físico e psicológico. Com base nisso, entende-se que toda a atividade desenvolvida por uma criança ou um adolescente que não prejudique sua estrutura física ou psicológica, que não prejudique a aprendizagem e que possibilite à criança fazer coisas de criança e não seja caracterizado como trabalho continuado, pode ser considerado como educação familiar e preparação para a vida. Portanto, é com base neste conceito que a convivência familiar torna-se um fator importante para a formação da criança e do adolescente. (continua) José Leon Macedo Fernandes/Biólogo, mestre em Desenvolvimento Regional, coordenador pedagógico do Projeto Verde é Vida da Afubra

sábado, 22 de agosto de 2009

A Escola da Família


Aproximar os pais do trabalho pedagógico é um dever dos gestores.


Gustavo Heidrich mailto:gestao@atleitor.com.br

Está na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA): as escolas têm a obrigação de se articular com as famílias e os pais têm direito a ter ciência do processo pedagógico, bem como de participar da definição das propostas educacionais. Porém nem sempre esse princípio é considerado quando se forma o vínculo entre diretores, professores e coordenadores pedagógicos e a família dos alunos. O relacionamento chega a ser ambíguo. Muitos gestores e docentes, embora no discurso reclamem da falta de participação dos pais na vida escolar dos filhos - com alguns até atribuindo a isso o baixo desempenho deles - não se mostram nada confortáveis quando algum membro da comunidade mais crítico cobra qualidade no ensino ou questiona alguma rotina da escola. Alguns diretores percebem essa atitude inclusive como uma intromissão e uma tentativa de comprometer a autoridade deles. Já a maioria dos pais, por sua vez, não participa mesmo. Alguns por não conhecer seus direitos. Outros porque não sabem como. E ainda há os que até tentaram, mas se isolaram, pois nas poucas experiências de aproximação não foram bem acolhidos e se retraíram.

No Brasil, o acesso em larga escala ao ensino se intensificou nos anos 1990, com a inclusão de mais de 90% das crianças em idade escolar no sistema. Para as famílias antes segregadas do direito à Educação, o fato de haver vagas, merenda e uniforme representou uma enorme conquista. "Muitos pais veem a escola como um benefício e não um direito e confundem qualidade com a possibilidade de uso da infraestrutura e dos equipamentos públicos. Isso de nada adianta se a criança não aprender", afirma Maria do Carmo Brant de Carvalho, coordenadora geral do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), em São Paulo. A escola foi criada para servir à sociedade. Por isso, ela tem a obrigação de prestar contas do seu trabalho, explicar o que faz e como conduz a aprendizagem das crianças e criar mecanismos para que a família acompanhe a vida escolar dos filhos. "Os educadores precisam deixar de lado o medo de perder a autoridade e aprender a trabalhar de forma colaborativa", afirma Heloisa Szymanski, do


Departamento de Psicologia da Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Um estudo realizado pelo Convênio Andrés Bello - acordo internacional que reúne 12 países das Américas - chamado A Eficácia Escolar Ibero-Americana, de 2006, estimou que o "efeito família" é responsável por 70% do sucesso escolar. "O envolvimento dos adultos com a Educação dá às crianças um suporte emocional e afetivo que se reflete no desempenho", afirma Maria Amália de Almeida, do Observatório Sociológico Família-Escola, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mas o que significa uma parceria saudável entre essas duas instituições? Os pais devem ajudar no ensino dos conteúdos e os professores no dos bons modos? Claro que não. A colaboração que se espera é de outra ordem. "O papel do pai e da mãe é estimular o comportamento de estudante nos filhos, mostrando interesse pelo que eles aprendem e incentivando a pesquisa e a leitura", diz Antônio Carlos Gomes da Costa, pedagogo mineiro e um dos redatores do ECA (leia sobre o que a família pode fazer para ajudar na Educação dos filhos no quadro abaixo).


Para isso, é preciso orientar os pais e subsidiá-los com informações sobre o processo de ensino e de aprendizagem, colocá-los a par dos objetivos da escola e dos projetos desenvolvidos e criar momentos em que essa colaboração possa se efetivar. Quando o assunto é aprendizagem, o papel de cada um está bem claro - da escola, ensinar, e dos pais, acompanhar e fazer sugestões. Porém, se o tema é comportamento, as ações exigem cumplicidade redobrada. Ao perceber que existem problemas pessoais que se refletem em atitudes que atrapalham o desempenho em sala de aula, os pais devem ser chamados e ouvidos, e as soluções, construídas em conjunto, sem julgamento ou atribuição de culpa. "Um bom começo é ter um diálogo baseado no respeito e na crença de que é possível resolver a questão", acredita Márcia Gallo, diretora da EME Professora Alcina Dantas Feijão, em São Paulo, e autora do livro A Parceria Presente: A Relação Família-Escola numa Escola de Periferia de São Paulo. Visando ajudar você a dar os passos necessários para cumprir o dever legal e social de ter um relacionamento de qualidade com as famílias, NOVA ESCOLA GESTÃO ESCOLAR elaborou uma lista com 13 ações, que vão desde o acolhimento no começo do ano letivo até as atividades de integração social.

Os deveres da família


Até o século 19, a separação de tarefas entre escola e família era clara: a primeira cuidava daquilo que à época se chamava "instrução", que na prática era a transmissão de conteúdos, e a segunda se dedicava à "Educação", o que significava o ensinamento de valores, hábitos e atitudes. "A Era Moderna deixa nebulosa essa divisão do trabalho educacional. Reconhecida como um valor de ascensão social para as classes surgidas com a urbanização, a Educação passa a ser objeto de atenção das famílias e as expectativas em relação à escola se ampliam", diz Maria Amália de Almeida, da UFMG. Na prática, a escola passou a ser reconhecida como um espaço de aprendizagem dos conteúdos e de valores para a formação da criança. Assim, as fronteiras se tornaram confusas. As responsabilidades da escola já foram detalhadas na reportagem ao lado. Mas, o que se pode esperar das famílias, além de que elas garantam o ingresso e a permanência das crianças em sala de aula? Quando se sentem integradas, elas passam a participar com entusiasmo das reuniões e se tornam parceiras no desafio de melhorar o desempenho dos filhos. Com o intuito de indicar caminhos para a participação mais efetiva das famílias, o projeto Educar para Crescer, iniciativa da Editora Abril e da Universidade Anhembi Morumbi, vai lançar a partir de 26 agosto o Guia da Educação em Família, que será encartado em diversas publicações da editora. Esse material, assim como o folheto Acompanhem a Vida Escolar dos Seus Filhos, do Ministério da Educação, traz orientações simples sobre como os pais podem trabalhar com a escola.
Entre as dicas, estão:
- Ler para as crianças ou pedir para que elas leiam para eles.
- Conversar sempre com os filhos sobre assuntos da escola.
- Acompanhar as lições de casa e mostrar interesse pelos conteúdos estudados.
- Verificar se o material escolar está completo e em ordem.
- Zelar pelo cumprimento das regras da escola.
- Participar das reuniões sempre que convocados.
- Conversar com os professores.
Quer saber mais entre no site da Nova Escola http://revistaescola.abril.com.br/e procure por:
Gestão Escolar
Articulação com a comunidade
Edição 003 Agosto/Setembro 2009

Na Educação de nossos filhos, todo exagero é negativo.


Responda-lhe, não o instrua.Proteja-o, não o cubra.Ajude-o, não substitua.Abrigue-o, não o esconda.Ame-o, não o idolatre.Acompanhe-o, não o leve.Mostre-lhe o perigo, não o atemorize.Inclua-o, não o isole.Alimente suas esperanças, não as descarte.Não exija que seja o melhor, peça-lhe para ser bom e dê exemplos.Não o mime em demasia, rodeio-o de amor.Não o mande estudar, prepare lhe um clima de estudos.Não fabrique um castelo para ele, viva todos com naturalidade.Não o ensine a ser, seja você como quer que ele seja.Não lhe dedique a vida, viva todos.Lembre-se que seu filho não o escuta, ele o olha.E, finalmente, quando a gaiola do canário se quebrar, não compre outra...Ensine-lhe a viver sem portas!

Aprendem o que vivenciam


Aprendem o que vivenciam

Se as crianças vivem ouvindo críticas, aprendem a condenar.
Se convivem com a hostilidade, aprendem a brigar.
Se as crianças convivem com a pena, aprendem a ter pena de si mesmas.
Se vivem sendo ridicularizadas, aprendem a ser tímidas.
Se convivem com a inveja, aprendem a invejar.
Se vivem com vergonha, aprendem a sentir culpa.
Se vivem sendo incentivadas, aprendem a ter confiança em si mesmas.
Se as crianças vivem a tolerância, aprendem a ser pacientes.
Se vivenciam os elogios, aprendem a apreciar.
Se vivenciam a aceitação, aprendem a amar.
Se vivenciam a aprovação, aprendem a gostar de si mesmas.
Se vivenciam o reconhecimento, aprendem que é bom ter um objetivo.
Se vivem partilhando, aprendem o que é generosidade.
Se convivem com a generosidade, aprendem a veracidade.
Se vivem com eqüidade, aprendem o que é justiça.
Se convivem com a bondade e a consideração, aprendem o que é respeito.
Se as crianças vivem com segurança, aprendem a ter confiança em si mesmas e naqueles que as cercam.
Se as crianças convivem com afabilidade e a amizade, aprendem que o mundo é um bom lugar para se viver.

Doroty Law Nolte

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Controladoras demais



PATRÍCIA CERQUEIRA - Folha de S. Paulo

Excesso de crítica e de controle por parte das mulheres pode fazer com que os pais de primeira viagem se envolvam menos na criação dos filhos

Reza a cartilha da vida doméstica contemporânea que os homens são tão bons cuidadores dos bebês quanto as mães. De fato, tem sido cada vez mais fácil encontrar pais plenamente envolvidos nos cuidados dos pequenos. Mas também é comum constatar mães reclamando do não envolvimento intenso dos homens com os filhos e dizendo que o pai só quer a parte fácil, de brincar com eles.
Intrigada com a irregularidade desse envolvimento masculino, a americana Sarah Schoppe-Sullivan foi pesquisar por que alguns pais se envolvem plenamente, enquanto outros não. Professora de desenvolvimento humano da Ohio State University, ela descobriu, em entrevista com 97 pais de primeira viagem, que um dos motivos do afastamento paterno é o comportamento feminino.
Quanto mais ranzinzas, críticas e controladoras da situação são as mães, menos empolgados e envolvidos ficam os pais.
A professora diz que o comportamento não é incomum. "Algumas mães agem como uma porteira, alguém com o poder de decidir o tipo de relação que o pai tem com o filho, porque enxergam seus maridos como pais incompetentes", disse Schoppe-Sullivan à Folha, por e-mail. Outras mulheres, segundo a pesquisadora, acreditam que, por serem as principais responsáveis pelos filhos, serão julgadas negativamente se compartilharem o cuidado dos pequenos com o marido.
O estudo conclui que quanto mais negativas são, mais as mães afastam os maridos de se envolverem nos cuidados com o recém-nascido. E apontou uma luz: "Quando as mães encorajam os pais, eles tendem a cuidar mais dos filhos".
Quando Leonardo Bisol nasceu, há quatro anos, sua mãe a editora de arte Márcia Helena Ramos, 42, nunca tinha trocado uma fralda, mas acreditava que sabia tudo sobre os cuidados com um recém-nascido -achava, inclusive, que sabia mais que o marido, o designer gráfico Luis Carlos Bisol, 57, que tem uma filha de 30 anos.
A certeza de que seu jeito de cuidar do filho era o melhor repercutiu. "O Leo passou a repetir isso. Pensei: "O jeito do pai também é bom". Ele é tão competente quanto eu, só que vai por outro caminho", diz Márcia. Agora, quando o filho solta a frase, ela diz que "às vezes, o jeito da mamãe é o certo e, às vezes, o jeito do papai é que é".
Márcia diz que passar a se importar menos com detalhes surtiu efeito positivo: até o casamento ficou mais suave. "O Luis, quando vai lavar o rosto do Leo, quase afoga o menino, mas eu não falo nada, porque no final o resultado é o mesmo e não causa nenhum trauma", conta, rindo.
"A palavra-chave é negociação. Ninguém é feliz numa relação desequilibrada de poder. Quando acho que o meu jeito de cuidar do Leo está certo, defendo a minha posição e a Márcia acaba aceitando", diz Luis.

Criações diferentes
Não é só o comportamento feminino que influencia no envolvimento paterno, que tem a ver também com a forma como a mãe e o pai foram criados. "Aprendemos a linguagem amorosa com nossas famílias", diz Lidia Aratangy, terapeuta de casais e família.
Poucos acontecimentos atingem tão profundamente as pessoas quanto o nascimento do primeiro filho. "É um evento de proporções enormes na vida dos pais, não só como casal, mas individualmente", diz Daniela da Rocha Peres, psicanalista e terapeuta de família.
Nesse momento, há homens que percebem que não sabem o que é cuidar de alguém dependente fisicamente dele. "Pode ocorrer um desinteresse pelos cuidados com o filho, ligado ao despreparo emocional para a função paterna", afirma Luiz Cuschnir, psiquiatra e psicoterapeuta, idealizador do Iden (Centro de Estudos da Identidade do Homem e da Mulher).
Há também aqueles que se abalam com a possibilidade de ficarem excluídos da dupla mãe e filho. "Alguns não suportam esse momento de marginalidade e se separam", diz Peres.
Se há homens que não aguentam e fogem do casamento, há também aqueles que se sentem os provedores. Em alguns pais, essa figura vem carregada de tão forte angústia que eles passam a trabalhar demais e a se preocupar excessivamente com a manutenção da família. "Um pai muito preocupado não consegue ter disponibilidade para cuidar ou brincar com um bebê", diz Peres.

Dá para superar
Para Aratangy, não há receita para sobreviver a esse tipo de situação que pode surgir com o nascimento do primeiro filho. "Mas tolerância e bom humor ajudam um bocado", diz .
Foi o que fez o designer Eduardo Campus, 34. Como sentiu que tinha pouco espaço como pai nos primeiros dias após o nascimento de sua filha, Luisa, dava apoio incondicional à mulher. "Não precisei cavar meu espaço como pai porque sabia que ele existia", diz.
Mesmo assim, não se livrou das críticas. "Tenho uma frase clássica muito irritante, que é "quando eu faço...’", diz sua mulher, Liliane Ferrari, 33.
Ela percebeu rapidamente que não tinha de criticar a forma como Eduardo cuidava da filha. "A maneira como a Liliane se relaciona com a milha filha é diferente da minha, e filho precisa dessa diferença. Ele não precisa de competição entre o pai e a mãe, mas de um ambiente para crescer forte e aprender que dentro de casa há dois modelos de criação e que os dois são certos", diz Eduardo. Ainda no primeiro ano de vida de Luisa, o casal dividiu as tarefas -cada um faz, principalmente, o que gosta. "Eu cuido do almoço da Luisa enquanto ele dá banho e troca de roupa. Eu faço o leite, e ele a coloca para dormir e assim vamos", diz Liliane.
Se não há regras para superar essa fase, dá para entender algumas dinâmicas próprias dela. "No primeiro mês do bebê, mãe e filho ficam numa unidade assustadora. Isso é salutar, mas deve durar pouco", diz a psicanalista Daniela da Rocha Peres.
Passada esta fase, o pai deve forçar sua entrada. "O ideal é que ele entre e não só assista. E que, com o tempo, desfaça a unidade mãe-bebê."

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Lugar de criança é na família, por Maria do Rosário*


O abandono familiar é uma situação triste, mas igualmente ou mais triste é que uma criança fique abandonada em uma instituição durante anos. Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social, cerca de 80 mil crianças e adolescentes esperam por adoção no nosso país. No Rio Grande do Sul, o Juizado da Infância e Juventude aponta que há 735 aptos para a adoção. O problema, no entanto, é muito mais que numérico, mas humano. Cada ser é uma vida, que não pode ser perdida para a burocracia.

Trabalhamos nos últimos anos na elaboração de uma lei de convivência familiar e comunitária, que ficou conhecida como Lei Nacional da Adoção (Lei 12.010, de 3 de agosto de 2009), sancionada esta semana pelo presidente Lula. É um tema complexo mas que precisava ser enfrentado com responsabilidade, pensando na vida desses milhares de meninos e meninas que infelizmente foram abandonados duas vezes: pela família e pela omissão do Estado brasileiro, que não estipula prazos para que a criança tenha um destino. Muitos bebês completaram 18 anos em um abrigo sem haver nenhuma decisão judicial sobre eles.

Agora, haverá um cadastro único de todas as crianças do país em condição de serem adotadas. Além disso, toda menina ou menino que estiver em um abrigo terá um plano para o seu desabrigamento. As instituições não podem mais ser o destino final das crianças, mas casas de passagem. Lugar de criança é na família. De seis em seis meses, a situação de cada um será avaliada pelo Judiciário e pelo Ministério Público e num prazo máximo de dois anos será dado um encaminhamento definitivo, sempre com prioridade de retorno à família biológica.

Ampliamos o conceito de família, não reconhecendo somente os pais, mas também os avós, tios, primos e irmãos. A adoção só passa a ser uma opção quando esgotadas as possibilidades de esses parentes assumirem responsabilidade pela criança. Outra prioridade é que não se separem mais os irmãos biológicos, devendo manter esse vínculo, afinal eles já constituem uma família e vão sofrer se forem separados.

Também determinamos a prioridade para as adoções nacionais. A criança só será levada para o Exterior quando não houver um adulto que possa e queira adotá-la aqui no Brasil. Criamos mecanismos de estímulo à adoção de crianças de outras etnias e também de crianças mais velhas, que hoje encontram muita dificuldade de ter uma família. Precisamos mudar a cultura que privilegia bebês brancos.

Essa lei pretende garantir a cada criança brasileira o sagrado direito de ter uma família. É uma das melhores e mais importantes conquistas da infância brasileira, em especial de todos e todas que daqui para a frente irão se beneficiar dela.



*Deputada federal (PT-RS), relatora do projeto de lei na Câmara Federal

sábado, 1 de agosto de 2009

O dever da família

As dez principais descobertas dos especialistas sobre quando e como os pais podem ajudar a despertar nos filhos a curiosidade intelectual e fazê-los alcançar um desempenho melhor nos estudos.
1. Ter livros em casa e, no caso de filhos pequenos, ler para eles. O hábito, cultivado desde cedo, faz aumentar o vocabulário de forma espantosa. Segundo estudo do americano James Heckman, prêmio Nobel de economia, uma criança de 8 anos que recebeu esse tipo de estímulo a partir dos 3 domina cerca de 12 000 palavras – o triplo de um aluno sem o mesmo empurrão. A diferença se faz sentir na assimilação de conhecimento em todas as áreas. Ao analisar o fato de a Finlândia aparecer sempre na primeira posição nos rankings de educação, um estudo da OCDE confirma: o incentivo precoce à leitura em casa tem um papel decisivo.
2. Reservar um lugar tranquilo para os estudos. A ideia é cuidar para que o ambiente ofereça o mínimo necessário: mesa, cadeira, boa iluminação e distância da televisão. Já na pré-escola, os pais podem definir o local e incentivar seu uso diário. Os benefícios, já quantificados, são os esperados: concentrado, o aluno aprende mais e erra menos.



3. Zelar pelo cumprimento da lição. Ainda que a criança seja pequena e a tarefa, bem fácil, é importante mostrar a relevância dela com gestos simples, como pedir para olhar o dever pronto ao chegar em casa. Até cerca de 10 anos, monitorar diariamente a execução da lição não é excessivo. Ao contrário. Esse é o momento de começar a sedimentar uma rotina de estudos, com horário e local, mesmo que seja mais uma brincadeira. Um relatório da OCDE não deixa dúvidas quanto às vantagens. Os melhores alunos no mundo todo levam a sério o dever de casa.


4. Orientar, mas jamais dar a resposta certa .Solucionar o problema é uma tentação frequente dos pais quando são acionados a ajudar na tarefa de casa. Não funciona. O que dá certo, isso sim, é recomendar uma leitura mais atenta do enunciado, tentar provocar uma nova reflexão sobre o assunto e, no caso de filhos mais velhos, sugerir uma boa fonte de pesquisas. Se o erro persistir, deixe-o lá. Já se sabe que a correção do professor é decisiva para a fixação da resposta certa.

5. Preservar o tempo livre. Muitos pais, ávidos por proporcionar o maior número de oportunidades aos filhos, lotam sua agenda de atividades fora da escola. O resultado é que sobra pouco tempo para brincar, esse também um momento sabidamente precioso para o aprendizado. Na escola, por sua vez, crianças com rotinas atribuladas demais costumam demonstrar cansaço, o que frequentemente compromete o próprio rendimento.


6. Comparecer à reunião de pais. Mesmo que seja muitas vezes enfadonha, ela proporciona no mínimo uma chance de sentir o ambiente na escola, saber da experiência dos demais alunos e tomar contato com a visão de outros pais. A ida a esses encontros tem ainda um efeito colateral menos visível, mas já bastante estudado: a presença dos pais é uma demonstração de interesse que contribui para o envolvimento dos filhos com a escola.

7. Conversar sobre a escola.A manifestação de interesse, por si só, é um indicativo do valor dado à educação pela família. Os efeitos são ainda maiores quando o estudo é tratado como algo agradável e aplicável à vida prática, e não um fardo. Uma recente compilação de estudos, consolidada por um centro de pesquisas do governo americano, mostra que um pai que consegue produzir esse tipo de ambiente em casa aumenta em até 40% as chances de o filho se tornar um bom aluno.

8. Monitorar o boletimNo caso de um resultado ruim, o melhor a fazer é definir um plano para melhorar o desempenho – mas não sem antes consultar a escola e avisar o filho de que está fazendo isso. O objetivo aí é estabelecer, junto com o colégio, uma estratégia para reverter a situação e saber qual será, exatamente, sua participação. Está mais do que provado que castigo, nesse caso, não funciona. Só diminui o grau de autoconfiança, já baixa, e agrava o desinteresse pelos estudos.
9. Procurar o colégio no começo do anoÉ a ocasião em que cabe perguntar, pelo menos em linhas gerais, o que a escola pretende ensinar em cada matéria. Trata-se do mínimo para poder acompanhar tais metas e, se preciso, cobrar sua execução.
10. Não fazer pressão na hora do vestibularO excesso de pressão por parte da família só atrapalha no momento mais tenso na vida de um estudante. À mesa do jantar, os pais darão uma boa contribuição ao evitar falar apenas disso. Mas podem ajudar mais, principalmente zelando para que o ambiente de casa na hora do estudo não fique barulhento demais e para que o filho não se comprometa com muitas atividades. O lazer, no entanto, não deve ser suprimido. É o que dizem os especialistas e os próprios campeões no vestibular: em 2008, os mais bem colocados em dez áreas mantiveram uma pesada rotina de estudos, mas, pelo menos no fim de semana, preservaram algum tempo livre.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Crime e Castigo


Tomo emprestado o título do romance do russo Dostoiévski, para comentar a multiplicação dos crimes nesta cultura torta, desde os pequenos "crimes" cotidianos – falta de respeito entre pais e filhos, maus-tratos a empregados, comportamento impensável de políticos e líderes, descuido com nossa saúde, segurança, educação – até os verdadeiros crimes: roubos, assaltos, assassinatos, tão incrivelmente banalizados nesta sociedade enferma. A crise de autoridade começa em casa, quando temos medo de dar ordens e limites ou mesmo castigos aos filhos, iludidos por uma série de psicologismos falsos que pululam como receitas de revista ou programa matinal de televisão e que também invadiram parte das escolas. Crianças e adolescentes saudáveis são tratados a mamadeira e cachorro-quente por pais desorientados e receosos de exercer qualquer comando. Jovens infratores são tratados como imbecis, embora espertos, e como inocentes, mesmo que perversos estupradores, frios assassinos, traficantes e ladrões comuns. São encaminhados para os chamados centros de ressocialização, onde nada aprendem de bom, mas muito de ruim, e logo voltam às ruas para continuar seus crimes.

Estamos levando na brincadeira a questão do erro e do castigo, ou do crime e da punição. A banalização da má-educação em casa e na escola, e do crime fora delas, é espantosa e tem consequências dramáticas que hoje não conseguimos mais avaliar. Sem limites em casa e sem punição de crimes fora dela, nada vai melhorar. Antes de mais nada, é dever mudar as leis – e não é possível que não se possa mudar uma lei, duas leis, muitas leis. Hoje, logo, agora! O ensino nas últimas décadas foi piorando, em parte pelo desinteresse dos governos e pelo péssimo incentivo aos professores, que ganham menos do que uma empregada doméstica, em parte como resultado de "diretrizes de ensino" que tornaram tudo confuso, experimental, com alunos servindo de cobaias, professores lotados de teorias (que também não funcionam). Além disso, aqui e ali grupos de ditos mestres passaram a se interessar mais por politicagem e ideologia do que pelo bem dos alunos e da própria classe. Não admira que em alguns lugares o respeito tenha sumido, os alunos considerem com desdém ou indignação a figura do antigo mestre e ainda por cima vivam, em muitas famílias, a dor da falta de pais: em lugar deles, como disse um jovem psicólogo, eles têm em casa um gatão e uma gatinha. Dispensam-se comentários.

Autoridade, onde existe, é considerada atrasada, antiquada e chata. Se nas famílias e escolas isso é um problema, na sociedade, com nossas leis falhas, sem rigor nem coerência, isso se torna uma tragédia. Não me falem em policiais corruptos, pois a maioria imensa deles é honrada, ganha vergonhosamente pouco, arrisca e perde a vida, e pouco ligamos para isso. Eu penso em leis ruins e em prisões lotadas de gente em condições animalescas. Nesta nossa cultura do absurdo, crimes pequenos levam seus autores a passar anos num desses lixões de gente chamados cadeias (muitas vezes sem sequer ter havido ainda julgamento e condenação), enquanto bandidos perigosos entram por uma porta de cadeia e saem pela outra, para voltar a cometer seus crimes, ou gozam na cadeia de um conforto que nem avaliamos.
Precisamos de punições justas, autoridade vigilante, uma reforma geral das leis para impedir perversidade ou leniência, jovens criminosos julgados como criminosos, não como crianças malcriadas. Ensino, educação e justiça tornaram-se tão ruins, tudo isso agravado pelo delírio das drogas fomentado por traficantes ou por irresponsáveis que as usam como diversão ou alívio momentâneo, que passamos a aceitar tudo como normal: "É assim mesmo". Muito crime, pouco castigo, castigo excessivo ou brando demais, leis antiquadas ou insuficientes, e chegamos aonde chegamos: os cidadãos reféns dentro de casa ou ratos assustados nas ruas, a bandidagem no controle; pais com medo dos filhos, professores insultados pela meninada sem educação. Seria de rir, se não fosse de chorar.

Lya Luft - Revista Veja -Edição 2123

sexta-feira, 24 de julho de 2009

FAMÍLIA - A maturidade dos pais na Educação dos Filhos



24.Jul.2009 Dr. Jajáh*


"Pai +Mãe + Filho + Amor = Felicidade!"Meus amigos, se tem uma tarefa difícil e complexa para o ser humano é educar os filhos: "interferir no processo de desenvolvimento do ser humano, imprimindo uma direção." Difícil por que não temos uma formação apropriada e definida para ser pais.
Acontece e, não mais que de repente, mesmo que programado e desejado, temos um filho para ajudar a se desenvolver, ocupando o seu espaço na sociedade. Educar um filho, já vimos, não é construir naquela criança um homem. É permitir que ela se construa e se torne, por seus próprios passos, um ser realizado e feliz.
Para essa missão difícil dispomos de uma ferramenta muito importante – INDISPENSÁVEL: A Família. Mãe + Pai + Filho + Amor = Grande possibilidade de pessoa saudável!
A família é uma instituição que deve ser construída com responsabilidade, com amor e com maturidade. A maturidade não é um estado comportamental ou de espírito, que se adquire numa determinada idade, e, quando a alcançamos, consideramos que somos possuidores dela.
"A maturidade é um processo de evolução gradativa, baseada no desenvolvimento do conhecimento e da sensibilidade. Isto pressupõe uma percepção ativa e sensível; capacidade de analisar, avaliar, discernir; coragem de formular e, se for o caso, reformular opiniões; constante disposição de aprender, desaprender e aprender de novo. Assim como a vida é movimento, um constante nascer, crescer e morrer para renascer, a maturidade é um processo contínuo de vir a ser." O ser humano nunca está pronto. Maduro. Completo.
Crescer no processo de maturidade exige elementos importantes como atenção para os ensinamentos que a vida oferece, respeito pelo processo de maturidade do outro, disponibilidade para mudanças e para fatos novos, identificar e aceitar as limitações próprias e do outro, individualidade do educando... Quantas vezes contribuímos para a deformação do auto-conceito de nossos filhos fazendo julgamentos nada construtivos como "você é mentiroso", "você não dá conta", "você é burro", "você é feio", " "vou contar para o seu pai". Estamos contribuindo para formar um homem complexado, medroso, deformado e infeliz.
O nosso filho vai atingindo novos níveis de maturidade, à medida que aperfeiçoa o equilíbrio entre o físico, o emocional, o conhecimento e o espiritual. A interiorização, a reflexão, a introspecção são caminhos que nos levam ao auto-conhecimento, indispensável qualidade da maturidade.
Portanto, meu estimado amigo, o casal tem que investir continuadamente na construção de uma maturidade individual e a dois para gerar um ambiente propício de desenvolvimento saudável para os filhos.
Existem atitudes que dificultam o bom relacionamento que precisam ser identificadas e combatidas:
O ciúme e inveja – resultantes da insegurança;
O comodismo e a omissão – resultantes da falta de amadurecimento que leva a ficar centrado em si mesmo, egoisticamente. Isto o afasta da participação ativa na vida diária da família;
Autoritarismo de um dos cônjuges – quando quer impor sua vontade acima da dos outros, desvalorizando a opinião ou posição dos demais;
Temos que estar atentos para fomentar atitudes que facilitam o bom relacionamento do casal, tais como:
Domínio de si – procurar o auto-conhecimento com a vontade de crescer, de ser melhor. Estar atendo para identificar as próprias limitações para não se tornar vítima delas;
Amar o outro pelo que ele é – enxergar o outro como ele é e não como eu gostar que ele fosse; amá-lo com suas virtudes e com suas limitações.
Abrir-se para o outro – permitir o diálogo com o outro. É uma oportunidade de troca informações e também uma atitude que permite ao outro oportunidade de conhecer o seu íntimo, o seus sentimentos, as suas expectativas.
A educação dos filhos, meu amigo, é uma tarefa a dois e, para que isso se torne real, são necessárias algumas ações tais como:Aceitar que a tarefa de educar seja realizada a dois – nunca encobrir do outro atitudes tomadas com os filhos como se temesse a reação do outro. Permitir que o outro participe integralmente de todas as ações de educar o filho.
Reconhecer a interdependência como único meio de uma evolução global – Lembre-se: a família não é só a célula "mater" da vida biológica, mas também, revela-se como o mundo em miniatura, com sua multiplicidade de tipos, aptidões, limitações, interesses, objetivos, oposições, contradições e gerações.
O casal deve ter um objetivo claro para a sua vida familiar, como por exemplo:
Acumular um patrimônio material que dê segurança para o futuro;Conquistar diplomas – convém que os filhos concluam cursos superiores ou técnicos que lhes dêem segurança no mercado de trabalho;
Ser intelectual, fomentar o estudo, a cultura, o conhecimento;
Ser destaque, famoso na arte, na política, no esporte, na sociedade;
Ser feliz, criando uma família aberta, participante, irradiando sua felicidade para todos;
Espiritualidade – estimular a indispensável ligação entre a criatura e o Criador.Importante: A maturidade dos pais permite a sensibilidade e a percepção necessárias para detectar as capacidades potenciais físicas, emocionais, espirituais e sociais da criança permitindo o seu desenvolvimento pleno.
Que fique claro, meu amigo: se educamos os nossos filhos para que sejam felizes, não pode faltar o ingrediente mais importante: o AMOR!


*Referência: Educar, um desafio. Escola de Pais do Brasil.

*O autor é médico na cidade de Dourados – Mato Grosso do Sul – O Estado do Pantanal – PN.www.jajah.med.br / jajah@jajah.med.br

quarta-feira, 22 de julho de 2009

“A família precisa fornecer noções básicas de civilidade”





Professor Joe Garcia, doutor em Educação e especialista em indisciplina da Universidade Tuiuti do ParanáA falta de limites na sala de aula é o foco das pesquisas do doutor em Educação e especialista em indisciplina Joe Garcia há mais de uma década. O professor do Mestrado em Educação da Universidade Tuiuti do Paraná adiantou ontem pontos da palestra que deve apresentar amanhã, no 10º Congresso da Escola Particular Gaúcha:

ZH – Quais são as causas da indisciplina?

Joe Garcia – Há causas externas e internas à escola. Entre as externas, três se destacam. A primeira é a violência social. Num mundo cada vez mais violento, as pessoas vão ficando menos solidárias. Isso está sendo observado nas escolas e tem muito a ver com a indisciplina. Outra causa externa é a influência da mídia, que está mexendo na visão de mundo e no estilo de vida dos jovens. Para os professores, é difícil lidar com toda essa variedade de expressões culturais. A terceira causa é o ambiente familiar. Estudos mostram que a participação da família no processo educacional é fundamental. Ela não precisa fazer o trabalho da escola, mas tem de assumir o papel de torcida organizada e dar noções básicas de civilidade.

ZH – E quais são as causas internas da indisciplina nas escolas?

Garcia – A primeira delas é a qualidade do currículo. Se a escola tem um currículo desatualizado, fica difícil para professores e alunos. Muitos jovens usam a indisciplina para comunicar aos professores que as práticas pedagógicas são ruins. Um dos grandes desafios da escola moderna é conseguir ser desafiadora. Às vezes, as aulas são menos desafiadoras do que um jogo de videogame.

ZH – O que os pais podem fazer para frear a indisciplina?

Garcia – Até certo ponto, a culpabilização da família é verdadeira. O que vemos hoje são adultos com a agenda lotada e com o dia basicamente caótico. Nós, pais, precisamos desenvolver maior interesse pela vida escolar dos nossos filhos. Precisamos estar mais presentes. É importante de vez em quando folhear os livros deles para valorizar os estudos e ir com eles a livrarias para mostrar que o conhecimento é algo interessante. São coisas simples e que não custam tão caro.

domingo, 19 de julho de 2009

Família em Campo



Praticar exercícios físicos com os filhos fortalece os laços afetivos da família.
Jogar futebol com a garotada é uma boa maneira de aprofundar os laços entre pais e filhos. Além dos benefícios físicos da atividade e da oportunidade de estimular o prazer pelo esporte em seus filhos, desde cedo, os pais podem aproveitar o momento de descontração para passar importantes exemplos.
“Uma criança que está aprendendo a chutar a bola, por exemplo, pode se irritar ao errar repetidas vezes. Nestas horas, os pais têm a chance de lembrá-la que eles também cometem erros e perdem gols. Isso vai ajudar seu filho a minimizar sua frustração e entender que ninguém é infalível”, orienta a psicóloga infantil e terapeuta familiar, Suzy Camacho.
De acordo com a especialista, crianças que praticam exercícios na infância têm mais propensão a reproduzir na vida adulta os valores aprendidos pelo esporte, como dedicação e respeito. A seguir, ela destaca uma série de aspectos emocionais ligados esporte e as razões para investir nele.
1. Criar vínculos afetivos. Um esporte como o futebol, por exemplo, exige trabalho em equipe e isso ajuda a tornar as relações mais próximas entre pais, filhos e irmãos.
2. Reforçar a noção de respeito. Ensinar seu filho a chutar, por exemplo, exige confiança e paciência durante o processo de aprendizado.
3. Trabalhar os conceitos de fracasso e persistência. Ao jogar com seu filho, não deixe de pontuar os erros dele, mostrando que nem sempre o aprendizado é rápido e sem tropeços.

Fonte: Nestlé

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Educação de qualidade começa bem cedo




“Uma criança de 8 anos que recebeu estímulos cognitivos aos 3 conta com um vocabulário de cerca de 12.000 palavras - o triplo do de um aluno sem a mesma base precoce. E a tendência é que essa diferença se agrave. Faz sentido. Como esperar que alguém que domine tão poucas palavras consiga aprender as estruturas mais complexas de uma língua, necessárias para o aprendizado de qualquer disciplina? Por isso as lacunas da primeira infância atrapalham tanto” - James Heckman, economista da Universidade de Chicago, ganhador do Prêmio Nobel, em entrevista à revista Veja, 10 de junho de 2009.

Se alguém tem dúvidas ou questionamentos quanto à importância da educação nos primeiros anos de vida, nada melhor que dados e números para comprovar este fato. Partindo desta premissa, ou seja, a de que dados e estatísticas comprovam ações e práticas em educação e programas sociais, o economista James Heckman, defende não só a importância da Educação Infantil e dos primeiros anos do Ensino Fundamental, mas também o valor da participação, incentivo e proximidade da família no processo de formação das crianças.

A diferença existente entre uma criança estimulada, e neste caso é preciso considerar como bases de estímulo tanto à escola quanto à família, equivale a possuir um acervo de palavras que é, no mínimo, três vezes maior do que aquelas que não tiveram igual incentivo em seus lares e escolas. E este vácuo criado entre crianças que tiveram diferentes origens em seus processos de ensino-aprendizagem dificilmente será tirado mais tarde ou, se isto ocorrer, acontecerá a um custo que pode 60% mais caro para a sociedade, conforme dados do próprio economista James Heckman.

O preparo qualificado nas escolas, apoiado pela família, permite que a criança cresça mais rica quanto as suas bases culturais ao mesmo tempo em que lhe garante melhor saúde (emocional e física) e, certamente, repercute em suas condicionantes sociais, melhorando sua capacidade de se relacionar com as outras pessoas a seu redor. Desenvolve-se, conforme observa Heckman, não apenas as capacidades cognitivas, aquelas relacionadas ao QI (o Quociente de Inteligência), mas também as sociais e emocionais.

Sabe-se hoje que, do mesmo modo que é importante conhecer a caixa de ferramentas e utilizá-la do modo mais eficiente possível, cabe também a todos desenvolver-se quanto às habilidades relacionais, de interação social. São elas que garantem as pessoas o acesso ao trabalho, a expansão de possibilidades profissionais e sociais, o bom relacionamento em todos os ambientes que as pessoas frequentam, a capacidade de motivar-se para desafios, o controle pessoal em situações diversas.

A escola complementa o trabalho de lapidação e polimento da pedra preciosa que é uma criança ao lhe dar subsídios sociais e culturais que a inserem na sociedade em pé de igualdade com os demais seres humanos. Cabe à família, no entanto, o crucial papel de fazer com que seus filhos tenham bases de ação, pensamento e moral que lhes permita entrar na escola, literalmente, pela porta da frente. Isto significa que, se não há um trabalho de incentivo e educação anterior e paralelo ao trabalho escolar realizado pelas redes de ensino regulares por parte da família, o prejuízo para as crianças, as famílias e a sociedade como um todo é grandioso.

Reduzir este raciocínio a números pode parecer mesquinho demais, mas foi a forma encontrada para demonstrar a todos o quanto custa a um país ter uma educação desqualificada em suas bases. Em termos do mundo real, poderíamos dizer que isto significa violência, famílias desestruturadas, consumo crescente de drogas, propagação de doenças que poderiam ser evitadas, aumento dos índices de pobreza...

No que tange a importância da família, Heckman coloca em pauta a necessidade de a escola orientar os pais e demais familiares que tem contato com as crianças em idade escolar, quanto a ações e práticas que deveriam ser regularmente adotadas em seus lares para incentivar os estudos e o enriquecimento social e cultural destes infantes.

Vivemos um tempo em que os pais, devotados ao trabalho, participam menos da formação de seus filhos do que há 20 ou 30 anos. Apesar do grande acesso a informação e dados, estas famílias carecem de maior tempo e esclarecimento quanto a formas e meios de melhorar o relacionamento e incentivar seus filhos para a vida familiar, escolar e social. Neste sentido, é urgente que auxílio surja e, certamente, não existe melhor e mais qualificada instituição para este fim do que a escola.


João Luís de Almeida Machado é editor do Portal Planeta Educação, doutor em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), pesquisador e autor do livro Na sala de aula com a sétima arte.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Aprender a conviver




Um estudo da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), publicado na última semana, concluiu que o professor perde muito tempo para manter a ordem em sala de aula. Isso não é novidade para quem trabalha em escola, já que a indisciplina é um dos fatores que mais estorvam o ensino de qualidade.Suas causas são diversas. Em geral, a ausência da intervenção familiar e algumas características do próprio aluno ganham lugar de destaque ao analisarmos o fenômeno na escola. Vamos pensar a respeito do papel dos pais nessa questão.
A falta de limites na educação familiar tem sido um bordão utilizado por especialistas de diversas áreas para explicar o comportamento ruidoso, incivilizado, transgressor e, por vezes, violento dos alunos em sala de aula. Mas devemos mudar o foco da discussão, já que esse não tem ajudado quase nada.
Podemos pensar, por exemplo, em como tem ocorrido a socialização de nossas crianças.
Cabe aos pais iniciar esse processo: ensinar o filho a falar, a vestir-se, a alimentar-se, a cuidar de seu corpo, por exemplo, são partes fundamentais. Entretanto, nada disso ganha sentido se não ocorre no grupo familiar e com ele. É preciso que a socialização seja coletiva, portanto, mesmo que no âmbito privado.
Por exemplo: o ato de falar. Não basta que os pais ensinem a criança a nomear e a pronunciar as palavras corretamente para se expressar. É preciso que ela aprenda a se comunicar, ou seja, a usar a fala na relação com os outros.
Os pais precisam ensinar a criança a se comunicar com a família. "Espere sua vez para falar", "Não interrompa sua mãe" e "Fale mais baixo" são exemplos de frases que ajudam a criança, desde pequena, a usar a fala de modo social e dialógico, ou seja, considerando os outros com quem interage e o grupo em que vive. O mesmo vale para o andar, o alimentar-se...
Entretanto, temos hoje dois fatores que atrapalham situações que favoreçam esses tipos de intervenção. O centro das famílias passou a ser lugar ocupado pelos filhos e, por isso, os pais priorizam o que eles fazem. Calam-se quando eles falam, acham natural que corram em ambientes fechados, que se alimentem a qualquer hora, não chamam a atenção quando eles tomam atitudes inadequadas na frente dos outros.
Mais do que deixar de colocar limites, muitos pais acatam o comportamento dos filhos.
O segundo motivo é que, cada vez menos, as famílias se reúnem para uma refeição ou compartilham períodos juntos. A casa tornou-se um ambiente em que cada integrante da família tem sua própria vida. O individual superou o coletivo também no interior da família.
Por isso, muitas crianças chegam à escola sem saber como estar com os pares, com os adultos e no grupo e lá precisam aprender quase tudo. Essa é nossa realidade.
Por fim: os professores não "perdem" tempo quando colocam ordem na sala de aula. Criar a ambiência positiva para o ensino é parte integrante da aula, afinal.


ROSELY SAYÃO - Folha de S. Paulo

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Educação sem limites



Há que se compreender os apelos de muito tempo feitos por professores de rede pública, que reclamam da berlinda educacional em que padecem, quase à beira da paranoia disciplinar. Se educar é preparar o indivíduo para a sociedade, a escola de hoje anda longe de atingir essa meta. Pois assim como o sistema familiar se corrompeu, o educandário abdicou de ser tábua de salvação do conhecimento e da disciplina. E sem entender que só se prepara o indivíduo para a sociedade formatando-lhe o caráter, a escola vem sendo vítima de frágeis e contraditórias teorias e, por isso, afrouxando as rédeas do controle da ordem, rendendo-se a uma onda continuada de delinquência protegida.O processo educador passa pelo disciplinador, pois é o limite familiar e escolar que prepara o cidadão para as conntroladas convenções sociais. E se a cada dia a escola está enfraquecida pela falta de estrutura, também se enfraquece por falta de autoridade – esta se confundiu e se perdeu desnecessariamente junto com o condenado autoritarismo. Persiste uma inversão de valores em nome de liberdades e garantias individuais, cujo exagero não contribui nem para a educação social, nem para a intelectual. Mas acaba nivelando tudo por baixo: o bom aluno que estuda, com aquele que não despertou para o compromisso discente. O que tira boas notas, com o que é aprovado sem notas e que é “empurrado com a barriga” para um futuro bem mais constrangedor que a reprovação. Essa falta de limites iniciada na educação familiar se amplia na escola com as temerosas concessões dadas a alunos indisciplinados, em detrimento da maioria, como se medidas disciplinadoras fossem todas constrangedoras. O próprio Estatuto dos Direitos da Criança e do Adolescente (ECA), cuja função maior é resgatar a responsabilidade da família, não é seguido à risca pela autoridade competente, que muitas vezes toma medidas educativas para proteger um adolescente infrator da exclusão educacional, cometendo para isto o disparate de penalizar toda uma sala de bons alunos (como se colocasse um gato na gaiola para aprender boas maneiras com os passarinhos); ou seja, se a autoridade não faz cumprir o ECA sobre a obrigatoriedade governamental de criar instâncias ressocializantes, não deveria também penalizar professores, projetos e alunos com equivocadas e desastrosas medidas de inclusão.O sistema de ensino tem procurado sustentação nos teóricos modernos para resolver problemas de aprendizado e conduta. Mas, a despeito das propostas inovadoras, a redução dos limites disciplinares está desobrigando o aluno de ter responsabilidade, alijando-o desse valor. Entende-se, portanto, que a sintonia entre ensino e aprendizagem está na base da compreensão da criança e do adolescente sobre o papel de cada um na escola. E como é verdade que educar é um ato de amor, todo amor requer, também, disciplina. É possível agir com dureza e com ternura ao mesmo tempo, mas, sobretudo com a compreensão de que educar é preparar o caráter do indivíduo, coisa que a falta de limites jamais permitirá.

José Pedro Frazão

terça-feira, 9 de junho de 2009

Desabafo

Sou professora e todos os dias eu saio ao meio-dia de uma escola e vou para outra. Almoço juntamente com algumas colegas professoras. Considero a hora do almoço como “a hora do desabafo". Diariamente escuto as mesmas queixas e as faço também: “– Hoje ele não me respeitou.” - “Não agüento mais... eu grito todo tempo”. “– Tudo que eu falo entra em um ouvido e sai pelo outro”. “Hoje ele me ofendeu com muitos palavrões”.” Pedi para falar com a mãe dele, mas ela não apareceu”. “Não tenho fome depois dessa manhã”. E assim passamos nossos almoços. Uma escutando a outra, dando apoio e tentando encontrar uma saída.
Não sei aonde iremos parar. Será que agüentaremos por muito mais tempo? Até quando a escola se sustentará?
Estudamos muito e tentamos entender o que está acontecendo. Realizamos encontros periódicos, planejamos e tentamos solucionar os problemas. Às vezes acertamos, outras vezes erramos, mas a solução não é encontrada.
As crianças a cada dia estão mais “descontroladas”. Muitos tomam Ritalina, outros Rispiridona, outros tantos Rivotril e assim por diante. Estamos diante de crianças que necessitam de drogas para conviver com os outros, reflexo de uma sociedade desestruturada. E o que fazer pelos alunos que são abandonados por suas famílias? Os que gritam, pulam, agridem, ofendem... tentam chamar a atenção de todas as maneiras. Nada consegue deixá-los em paz. Tudo, até mesmo um olhar, os irritam e os deixam com uma inquietação descontrolada.
Estamos em uma época nada fácil para o professor. Todos os dias um novo desafio nos é apresentado. Será que encontraremos uma saída? O que o futuro nos reserva?
Profª Sandra Grohe

domingo, 31 de maio de 2009

Como as nossas mães




Contrariando as estatísticas, algumas mulheres têm um filho atrás do outro e se realizam com a casa cheia

A vida na casa de Claudia Junqueira é animada e barulhenta. Na hora de comer, dormir, fazer dever de casa ou brincar, a agitação está garantida com os quatro filhos. A "escadinha" formada por Arthur, 3 anos, Clara, 7, Chloé, 10, e Max , 12, às vezes é engrossada por colegas de escola, que se juntam à bagunça. "Meus quatro filhos foram desejados e queridos", garante a empresária, de 37 anos. A família de Claudia está na contramão das estatísticas. Enquanto a brasileira tem cada vez menos filhos, ela faz parte de uma minoria que escolheu ter a casa cheia.
Famílias grandes foram regra num passado relativamente próximo. Na década de 70, a taxa de fecundidade era de 5,7 filhos por mulher. Em 2000, caiu para 2,3 filhos, e entre as que têm oito anos ou mais de estudo, 1,6 filho. De acordo com os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esses números encolheram ainda mais: 1,9 filho por mãe.
O que motiva, então, algumas famílias a irem contra essa tendência? Para Claudia e seu marido, que vêm de lares cheios de irmãos, é uma opção natural. "Desde menina eu desejava uma família enorme", explica Claudia. "Os amigos dos meus filhos amam vir aqui porque é uma casa pensada para as crianças." Empresária, ela mo n t o u uma agenda flexível para acompanhar os pequenos de perto e dispensou babá e creche.
Para Marina Vasconcellos, terapeuta de casais e família da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), é essencial ter planejamento financeiro e tempo quando se decide ter uma prole extensa. "Ter muitas crianças é uma festa, mas elas demandam atenção", afirma. A terapeuta diz que, apesar de exigir dedicação, crianças criadas com vários irmãos tendem a se desenvolver com maior autonomia. Do ponto de vista biológico, o corpo da mulher sai ganhando com a maternidade.
A gravidez reduz o risco de problemas como endometriose, câncer de mama e de útero. "Nesse sentido, quanto mais a mulher engravidar, melhor", diz a ginecologista Nilca Donadio.
É essencial ter planejamento financeiro e tempo para se dedicar quando se decide ter uma prole extensa
A roteirista e escritora Maria Mariana, 36 anos, passou os últimos dez anos alternando amamentação com gravidez. Conhecida pelo livro Confissões de adolescente, que virou peça e série de tevê, ela está lançando o livro Confissões de mãe, com as reflexões alinhavadas durante as gestações de Clara, 9 anos, Laura, 7, Gabriel, 5, e Isabel, 2. "Eu sempre quis muitos, mas fui querendo um depois do outro", conta Mariana, que acha mais fácil criar vários filhos do que um só. "Eles aprendem juntos." Depois de praticamente dez anos vivendo em função dos filhos, ela volta ao trabalho como roteirista da Rede Record e diz que saiu ganhando, apesar das críticas. "Achavam que eu estava deprimida, que tinha desistido", diz Mariana.
Em países com taxas de natalidade mais baixas, proles numerosas ganham, no mínimo, olhares desconfiados. Michelle Lehmann, 38 anos, secretária de uma firma de advocacia em Chicago, é mãe de oito, com idades entre 13 e 2 anos, e criou a comunidade online http://www.lotsofkids.com/, para ajudar pais com muitos filhos a trocar experiências. "As pessoas acham que você é irresponsável, ignorante ou fanático religioso por ter uma família maior", conta Michelle. Olhares enviesados são comuns quando os Lehmann saem de casa.
A partir da quarta gravidez, a secretária passou a ser tratada de modo diferente. "Eu apoio o direito de não ter filhos ou de ter família pequena", diz a secretária. "Só gostaria que eu e meu marido fôssemos mais respeitados por acreditarmos ser maravilhoso ter vários filhos."
Além do preconceito, esses pais enfrentam o fantasma de não darem atenção suficiente para todos. "Meus filhos são muito diferentes entre si, mas faço um esforço considerável para dedicar tempo a cada um deles", diz Michelle. A professora do Departamento de Psicologia e Filosofia da Educação da Universidade de São Paulo (USP) Silvia Colello afirma que a questão da atenção nunca se resolve de forma coletiva. "Os pais têm que ser críticos", ensina. "Aquilo que você aprendeu com um filho não serve para aplicar ao outro." É essa dedicação incansável que torna verdade o ditado: "Em coração de mãe, sempre cabe mais um."
Verônica Mambrini e Suzane G. Frutuoso - Revista Istoé - Edição 2060

segunda-feira, 25 de maio de 2009

A Importância da família no processo de educar




A mim me dá pena e preocupação quando convivo com famílias que experimentam a “tirania da liberdade” em que as crianças podem tudo: gritam, riscam as paredes, ameaçam as visitas em face da autoridade complacente dos pais que se pensam ainda campeões da liberdade. (PAULO FREIRE, 2000: 29)

A sociedade moderna vive uma crise de valores éticos e morais sem precedentes. Essa é uma constatação que nada tem de original, pois todos a estão percebendo e vivenciando de alguma maneira. O fato de ser uma professora a fazer essa constatação também não é nenhuma surpresa, pois é na escola que essa crise acaba, muitas vezes, ficando em maior evidência.


Nunca na escola se discutiu tanto quanto hoje assuntos como falta de limites, desrespeito na sala de aula e desmotivação dos alunos. Nunca se observou tantos professores cansados, estressados e, muitas vezes, doentes física e mentalmente. Nunca os sentimentos de impotência e frustração estiveram tão marcantemente presentes na vida escolar.


Para Esteve (1999), toda essa situação tem relação com uma acelerada mudança no contexto social. Segundo ele,
Nosso sistema educacional, rapidamente massificado nas últimas décadas, ainda não dispõe de uma capacidade de reação para atender às novas demandas sociais. Quando consegue atender a uma exigência reivindicada imperativamente pela sociedade, o faz com tanta lentidão que, então, as demandas sociais já são outras (1999: 13).


Por essa razão, dentro das escolas as discussões que procuram compreender esse quadro tão complexo e, muitas vezes, caótico, no qual a educação se encontra mergulhada, são cada vez mais freqüentes. Professores debatem formas de tentar superar todas essas dificuldades e conflitos, pois percebem que se nada for feito em breve não se conseguirá mais ensinar e educar. Entretanto, observa-se que, até o momento, essas discussões vêm sendo realizadas apenas dentro do âmbito da escola, basicamente envolvendo direções, coordenações e grupos de professores. Em outras palavras, a escola vem, gradativamente, assumindo a maior parte da responsabilidade pelas situações de conflito que nela são observadas.


Assim, procura-se em novas metodologias de trabalho, por exemplo, as soluções para esses problemas. Computadores e programas de última geração, projetos multi e interdisciplinares de todos os tipos e para todos os gostos, avaliações participativas, enfim uma infinidade de propostas e atividades visando a, principalmente, atrair os alunos para os bancos escolares. Não é mais suficiente a idéia de uma escola na qual o individuo ingressa para aprender e conhecer. Agora a escola deve também entreter.


No entanto, apesar das diferentes metodologias hoje utilizadas, os problemas continuam, ou melhor, se agravam cada vez mais, pois além do conhecimento em si estar sendo comprometido irremediavelmente, os aspectos comportamentais não têm melhorado. Ao contrário. Em sala de aula, a indisciplina e a falta de respeito só têm aumentado, obrigando os professores a, muitas vezes, assumir atitudes autoritárias e disciplinadoras. Para ensinar o mínimo, está sendo necessário, antes de tudo, disciplinar, impor limites e, principalmente, dizer não.


A questão que se impõem é: até quando a escola sozinha conseguirá levar adiante essa tarefa? Ou melhor, até quando a escola vai continuar assumindo isoladamente a responsabilidade de educar?
São questões que merecem, por parte de todos os envolvidos, uma reflexão, não só mais profunda, mas também mais crítica. É, portanto, necessário refletir sobre os papéis que devem desempenhar nesse processo a escola e, conseqüentemente, os professores, mas também não se pode continuar ignorando a importância fundamental da família na formação e educação de crianças e adolescentes.


Voltando a analisar a sociedade moderna, observa-se que uma das mudanças mais significativas é a forma como a família atualmente se encontra estruturada. Aquela família tradicional, constituída de pai, mãe e filhos tornou-se uma raridade. Atualmente, existem famílias dentro de famílias. Com as separações e os novos casamentos, aquele núcleo familiar mais tradicional tem dado lugar a diferentes famílias vivendo sob o mesmo teto. Esses novos contextos familiares geram, muitas vezes, uma sensação de insegurança e até mesmo de abandono, pois a idéia de um pai e de uma mãe cuidadores dá lugar a diferentes pais e mães “gerenciadores” de filhos que nem sempre são seus.
Além disso, essa mesma sociedade tem exigido, por diferentes motivos, que pais e mães assumam posições cada vez mais competitivas no mercado de trabalho. Então, enquanto que, antigamente, as funções exercidas dentro da família eram bem definidas, hoje pai e mãe, além de assumirem diferentes papéis, conforme as circunstâncias saem todos os dias para suas atividades profissionais. Assim, observa-se que, em muitos casos, crianças e adolescentes acabam ficando aos cuidados de parentes (avós, tios), estranhos (empregados) ou das chamadas babás eletrônicas, como a TV e a Internet, vendo seus pais somente à noite.


Toda essa situação acaba gerando uma série de sentimentos conflitantes, não só entre pais e filhos, mas também entre os próprios pais. E um dos sentimentos mais comuns entre estes é o de culpa. É ela que, na maioria das vezes, impede um pai ou uma mãe de dizer não às exigências de seus filhos. É ela que faz um pai dar a seu filho tudo o que ele deseja, pensando que assim poderá compensar a sua ausência. É a culpa que faz uma mãe não avaliar corretamente as atitudes de seu filho, pois isso poderá significar que ela não esteve suficientemente presente para corrigi-las.


Enfim, é a culpa de não estar presente de forma efetiva e construtiva na vida de seus filhos que faz, muitas vezes, um pai ou uma mãe ignorarem o que se passa com eles. Assim, muitos pais e mães acabam tornando-se reféns de seus próprios filhos. Com receio de contrariá-los, reforçam atitudes inadequadas e, com isso, prejudicam o seu desenvolvimento, não só intelectual, mas também, mental e emocional.


Esses conflitos acabam agravando-se quando a escola tenta intervir. Ocorre que muitos pais, por todos os problemas já citados, delegam responsabilidades à escola, mas não aceitam com tranqüilidade quando essa mesma escola exerce o papel que deveria ser deles. Em outras palavras,
[...] os pais que não têm condições emocionais de suportar a sua parcela de responsabilidade, ou culpa, pelo mau rendimento escolar, ou algum transtorno de conduta do filho, farão de tudo, para encontrar argumentos e pinçar fatos, a fim de imputar aos professores que reprovaram o aluno, ou à escola como um todo, a total responsabilidade pelo fracasso do filho (ZIMERMAN apud BOSSOLS, 2003: 14).


Assim, observa-se que, em muitos casos a escola (e seus professores) acaba sendo sistematicamente desautorizada quando, na tentativa de educar, procura estabelecer limites e responsabilidades. O resultado desses sucessivos embates é que essas crianças e adolescentes acabam tornando-se testemunhas de um absurdo e infrutífero cabo-de-guerra, entre a sua escola e a sua família. E a situação pode assumir uma maior complexidade porque, conforme também explica Zimerman, “o próprio aluno, que não suporte reconhecer a responsabilidade por suas falhas, fará um sutil jogo de intrigas que predisponha os pais contra os professores e a escola” (apud BOSSOLS, 2003: 14).


Entretanto, é importante compreender que, apesar de todas as situações aqui expostas, o objetivo não é o de condenar ou julgar. Está-se apenas demonstrando que, ao longo dos anos, gradativamente a família, por força das circunstâncias já descritas, tem transferido para a escola a tarefa de formar e educar. Entretanto, essa situação não mais se sustenta. É preciso trazer, o mais rápido possível, a família para dentro da escola. É preciso que ela passe a colaborar de forma mais efetiva com o processo de educar. É preciso, portanto, compartilhar responsabilidades e não transferi-las.


É dentro desse espírito de compartilhar que não se pode deixar de citar a iniciativa do MEC, que instituiu a data de 24 de abril como o Dia Nacional da Família na Escola. Nesse dia, todas as escolas são estimuladas a convidar os familiares dos alunos para participar de suas atividades educativas, pois segundo declaração do ex-Ministro da Educação Paulo Renato Souza "quando os pais se envolvem na educação dos filhos, eles aprendem mais".


A família deve, portanto, se esforçar em estar presente em todos os momentos da vida de seus filhos. Presença que implica envolvimento, comprometimento e colaboração. Deve estar atenta a dificuldades não só cognitivas, mas também comportamentais. Deve estar pronta para intervir da melhor maneira possível, visando sempre o bem de seus filhos, mesmo que isso signifique dizer sucessivos “nãos” às suas exigências. Em outros termos, a família deve ser o espaço indispensável para garantir a sobrevivência e a proteção integral dos filhos e demais membros, independentemente do arranjo familiar ou da forma como se vêm estruturando (KALOUSTIAN, 1988).


Educar, portanto, não é uma tarefa fácil, exige muito esforço, paciência e tranqüilidade. Exige saber ouvir, mas também fazer calar quando é preciso educar. O medo de magoar ou decepcionar deve ser substituído pela certeza de que o amor também se demonstra sendo firme no estabelecimento de limites e responsabilidades. Deve-se fazer ver às crianças e jovens que direitos vêm acompanhados de deveres e para ser respeitado, deve-se também respeitar.
No entanto, para não tornar essa discussão por demais simplista, é importante, entender, que quando se trata de educar não existem fórmulas ou receitas prontas, assim como não se encontra, em lugar algum, soluções milagrosas para toda essa problemática. Como já foi dito, educar não é uma tarefa fácil; ao contrário, é uma tarefa extremamente complexa. E talvez o que esteja tornando toda essa situação ainda mais difícil seja o fato de a sociedade moderna estar vivendo um momento de mudanças extremamente significativas.


Segundo Paulo Freire: “A mudança é uma constatação natural da cultura e da história. O que ocorre é que há etapas, nas culturas, em que as mudanças se dão de maneira acelerada. É o que se verifica hoje. As revoluções tecnológicas encurtam o tempo entre uma e outra mudança” (2000: 30). Em outras palavras, está-se vivendo, em um pequeno intervalo de tempo, um período de grandes transformações, muitas delas difíceis de serem aceitas ou compreendidas. E dentro dessa conjuntura está a família e a escola. Ambas tentando encontrar caminhos em meio a esse emaranhado de escolhas, que esses novos contextos, sociais, econômicos e culturais, nos impõem.
Para finalizar esse texto é importante fazer algumas considerações que, se não trazem soluções definitivas, podem apontar caminhos para futuras reflexões. Assim, é preciso compreender, por exemplo, que no momento em que escola e família conseguirem estabelecer um acordo na forma como irão educar suas crianças e adolescentes, muitos dos conflitos hoje observados em sala de aula serão paulatinamente superados. No entanto, para que isso possa ocorrer é necessário que a família realmente participe da vida escolar de seus filhos. Pais e mães devem comparecer à escola não apenas para entrega de avaliações ou quando a situação já estiver fora de controle. O comparecimento e o envolvimento devem ser permanentes e, acima de tudo, construtivos, para que a criança e o jovem possam se sentir amparados, acolhidos e amados. E, do mesmo modo, deve-se lutar para que pais e escola estejam em completa sintonia em suas atitudes, já que seus objetivos são os mesmos. Devem, portanto, compartilhar de um mesmo ideal, pois só assim realmente estarão formando e educando, superando conflitos e dificuldades que tanto vêm angustiando os professores, como também pais e os próprios alunos.

por MARGARETE J. V. C. HÜLSENDEGER