quinta-feira, 25 de junho de 2009

Aprender a conviver




Um estudo da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), publicado na última semana, concluiu que o professor perde muito tempo para manter a ordem em sala de aula. Isso não é novidade para quem trabalha em escola, já que a indisciplina é um dos fatores que mais estorvam o ensino de qualidade.Suas causas são diversas. Em geral, a ausência da intervenção familiar e algumas características do próprio aluno ganham lugar de destaque ao analisarmos o fenômeno na escola. Vamos pensar a respeito do papel dos pais nessa questão.
A falta de limites na educação familiar tem sido um bordão utilizado por especialistas de diversas áreas para explicar o comportamento ruidoso, incivilizado, transgressor e, por vezes, violento dos alunos em sala de aula. Mas devemos mudar o foco da discussão, já que esse não tem ajudado quase nada.
Podemos pensar, por exemplo, em como tem ocorrido a socialização de nossas crianças.
Cabe aos pais iniciar esse processo: ensinar o filho a falar, a vestir-se, a alimentar-se, a cuidar de seu corpo, por exemplo, são partes fundamentais. Entretanto, nada disso ganha sentido se não ocorre no grupo familiar e com ele. É preciso que a socialização seja coletiva, portanto, mesmo que no âmbito privado.
Por exemplo: o ato de falar. Não basta que os pais ensinem a criança a nomear e a pronunciar as palavras corretamente para se expressar. É preciso que ela aprenda a se comunicar, ou seja, a usar a fala na relação com os outros.
Os pais precisam ensinar a criança a se comunicar com a família. "Espere sua vez para falar", "Não interrompa sua mãe" e "Fale mais baixo" são exemplos de frases que ajudam a criança, desde pequena, a usar a fala de modo social e dialógico, ou seja, considerando os outros com quem interage e o grupo em que vive. O mesmo vale para o andar, o alimentar-se...
Entretanto, temos hoje dois fatores que atrapalham situações que favoreçam esses tipos de intervenção. O centro das famílias passou a ser lugar ocupado pelos filhos e, por isso, os pais priorizam o que eles fazem. Calam-se quando eles falam, acham natural que corram em ambientes fechados, que se alimentem a qualquer hora, não chamam a atenção quando eles tomam atitudes inadequadas na frente dos outros.
Mais do que deixar de colocar limites, muitos pais acatam o comportamento dos filhos.
O segundo motivo é que, cada vez menos, as famílias se reúnem para uma refeição ou compartilham períodos juntos. A casa tornou-se um ambiente em que cada integrante da família tem sua própria vida. O individual superou o coletivo também no interior da família.
Por isso, muitas crianças chegam à escola sem saber como estar com os pares, com os adultos e no grupo e lá precisam aprender quase tudo. Essa é nossa realidade.
Por fim: os professores não "perdem" tempo quando colocam ordem na sala de aula. Criar a ambiência positiva para o ensino é parte integrante da aula, afinal.


ROSELY SAYÃO - Folha de S. Paulo

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Educação sem limites



Há que se compreender os apelos de muito tempo feitos por professores de rede pública, que reclamam da berlinda educacional em que padecem, quase à beira da paranoia disciplinar. Se educar é preparar o indivíduo para a sociedade, a escola de hoje anda longe de atingir essa meta. Pois assim como o sistema familiar se corrompeu, o educandário abdicou de ser tábua de salvação do conhecimento e da disciplina. E sem entender que só se prepara o indivíduo para a sociedade formatando-lhe o caráter, a escola vem sendo vítima de frágeis e contraditórias teorias e, por isso, afrouxando as rédeas do controle da ordem, rendendo-se a uma onda continuada de delinquência protegida.O processo educador passa pelo disciplinador, pois é o limite familiar e escolar que prepara o cidadão para as conntroladas convenções sociais. E se a cada dia a escola está enfraquecida pela falta de estrutura, também se enfraquece por falta de autoridade – esta se confundiu e se perdeu desnecessariamente junto com o condenado autoritarismo. Persiste uma inversão de valores em nome de liberdades e garantias individuais, cujo exagero não contribui nem para a educação social, nem para a intelectual. Mas acaba nivelando tudo por baixo: o bom aluno que estuda, com aquele que não despertou para o compromisso discente. O que tira boas notas, com o que é aprovado sem notas e que é “empurrado com a barriga” para um futuro bem mais constrangedor que a reprovação. Essa falta de limites iniciada na educação familiar se amplia na escola com as temerosas concessões dadas a alunos indisciplinados, em detrimento da maioria, como se medidas disciplinadoras fossem todas constrangedoras. O próprio Estatuto dos Direitos da Criança e do Adolescente (ECA), cuja função maior é resgatar a responsabilidade da família, não é seguido à risca pela autoridade competente, que muitas vezes toma medidas educativas para proteger um adolescente infrator da exclusão educacional, cometendo para isto o disparate de penalizar toda uma sala de bons alunos (como se colocasse um gato na gaiola para aprender boas maneiras com os passarinhos); ou seja, se a autoridade não faz cumprir o ECA sobre a obrigatoriedade governamental de criar instâncias ressocializantes, não deveria também penalizar professores, projetos e alunos com equivocadas e desastrosas medidas de inclusão.O sistema de ensino tem procurado sustentação nos teóricos modernos para resolver problemas de aprendizado e conduta. Mas, a despeito das propostas inovadoras, a redução dos limites disciplinares está desobrigando o aluno de ter responsabilidade, alijando-o desse valor. Entende-se, portanto, que a sintonia entre ensino e aprendizagem está na base da compreensão da criança e do adolescente sobre o papel de cada um na escola. E como é verdade que educar é um ato de amor, todo amor requer, também, disciplina. É possível agir com dureza e com ternura ao mesmo tempo, mas, sobretudo com a compreensão de que educar é preparar o caráter do indivíduo, coisa que a falta de limites jamais permitirá.

José Pedro Frazão

terça-feira, 9 de junho de 2009

Desabafo

Sou professora e todos os dias eu saio ao meio-dia de uma escola e vou para outra. Almoço juntamente com algumas colegas professoras. Considero a hora do almoço como “a hora do desabafo". Diariamente escuto as mesmas queixas e as faço também: “– Hoje ele não me respeitou.” - “Não agüento mais... eu grito todo tempo”. “– Tudo que eu falo entra em um ouvido e sai pelo outro”. “Hoje ele me ofendeu com muitos palavrões”.” Pedi para falar com a mãe dele, mas ela não apareceu”. “Não tenho fome depois dessa manhã”. E assim passamos nossos almoços. Uma escutando a outra, dando apoio e tentando encontrar uma saída.
Não sei aonde iremos parar. Será que agüentaremos por muito mais tempo? Até quando a escola se sustentará?
Estudamos muito e tentamos entender o que está acontecendo. Realizamos encontros periódicos, planejamos e tentamos solucionar os problemas. Às vezes acertamos, outras vezes erramos, mas a solução não é encontrada.
As crianças a cada dia estão mais “descontroladas”. Muitos tomam Ritalina, outros Rispiridona, outros tantos Rivotril e assim por diante. Estamos diante de crianças que necessitam de drogas para conviver com os outros, reflexo de uma sociedade desestruturada. E o que fazer pelos alunos que são abandonados por suas famílias? Os que gritam, pulam, agridem, ofendem... tentam chamar a atenção de todas as maneiras. Nada consegue deixá-los em paz. Tudo, até mesmo um olhar, os irritam e os deixam com uma inquietação descontrolada.
Estamos em uma época nada fácil para o professor. Todos os dias um novo desafio nos é apresentado. Será que encontraremos uma saída? O que o futuro nos reserva?
Profª Sandra Grohe