segunda-feira, 27 de julho de 2009

Crime e Castigo


Tomo emprestado o título do romance do russo Dostoiévski, para comentar a multiplicação dos crimes nesta cultura torta, desde os pequenos "crimes" cotidianos – falta de respeito entre pais e filhos, maus-tratos a empregados, comportamento impensável de políticos e líderes, descuido com nossa saúde, segurança, educação – até os verdadeiros crimes: roubos, assaltos, assassinatos, tão incrivelmente banalizados nesta sociedade enferma. A crise de autoridade começa em casa, quando temos medo de dar ordens e limites ou mesmo castigos aos filhos, iludidos por uma série de psicologismos falsos que pululam como receitas de revista ou programa matinal de televisão e que também invadiram parte das escolas. Crianças e adolescentes saudáveis são tratados a mamadeira e cachorro-quente por pais desorientados e receosos de exercer qualquer comando. Jovens infratores são tratados como imbecis, embora espertos, e como inocentes, mesmo que perversos estupradores, frios assassinos, traficantes e ladrões comuns. São encaminhados para os chamados centros de ressocialização, onde nada aprendem de bom, mas muito de ruim, e logo voltam às ruas para continuar seus crimes.

Estamos levando na brincadeira a questão do erro e do castigo, ou do crime e da punição. A banalização da má-educação em casa e na escola, e do crime fora delas, é espantosa e tem consequências dramáticas que hoje não conseguimos mais avaliar. Sem limites em casa e sem punição de crimes fora dela, nada vai melhorar. Antes de mais nada, é dever mudar as leis – e não é possível que não se possa mudar uma lei, duas leis, muitas leis. Hoje, logo, agora! O ensino nas últimas décadas foi piorando, em parte pelo desinteresse dos governos e pelo péssimo incentivo aos professores, que ganham menos do que uma empregada doméstica, em parte como resultado de "diretrizes de ensino" que tornaram tudo confuso, experimental, com alunos servindo de cobaias, professores lotados de teorias (que também não funcionam). Além disso, aqui e ali grupos de ditos mestres passaram a se interessar mais por politicagem e ideologia do que pelo bem dos alunos e da própria classe. Não admira que em alguns lugares o respeito tenha sumido, os alunos considerem com desdém ou indignação a figura do antigo mestre e ainda por cima vivam, em muitas famílias, a dor da falta de pais: em lugar deles, como disse um jovem psicólogo, eles têm em casa um gatão e uma gatinha. Dispensam-se comentários.

Autoridade, onde existe, é considerada atrasada, antiquada e chata. Se nas famílias e escolas isso é um problema, na sociedade, com nossas leis falhas, sem rigor nem coerência, isso se torna uma tragédia. Não me falem em policiais corruptos, pois a maioria imensa deles é honrada, ganha vergonhosamente pouco, arrisca e perde a vida, e pouco ligamos para isso. Eu penso em leis ruins e em prisões lotadas de gente em condições animalescas. Nesta nossa cultura do absurdo, crimes pequenos levam seus autores a passar anos num desses lixões de gente chamados cadeias (muitas vezes sem sequer ter havido ainda julgamento e condenação), enquanto bandidos perigosos entram por uma porta de cadeia e saem pela outra, para voltar a cometer seus crimes, ou gozam na cadeia de um conforto que nem avaliamos.
Precisamos de punições justas, autoridade vigilante, uma reforma geral das leis para impedir perversidade ou leniência, jovens criminosos julgados como criminosos, não como crianças malcriadas. Ensino, educação e justiça tornaram-se tão ruins, tudo isso agravado pelo delírio das drogas fomentado por traficantes ou por irresponsáveis que as usam como diversão ou alívio momentâneo, que passamos a aceitar tudo como normal: "É assim mesmo". Muito crime, pouco castigo, castigo excessivo ou brando demais, leis antiquadas ou insuficientes, e chegamos aonde chegamos: os cidadãos reféns dentro de casa ou ratos assustados nas ruas, a bandidagem no controle; pais com medo dos filhos, professores insultados pela meninada sem educação. Seria de rir, se não fosse de chorar.

Lya Luft - Revista Veja -Edição 2123

sexta-feira, 24 de julho de 2009

FAMÍLIA - A maturidade dos pais na Educação dos Filhos



24.Jul.2009 Dr. Jajáh*


"Pai +Mãe + Filho + Amor = Felicidade!"Meus amigos, se tem uma tarefa difícil e complexa para o ser humano é educar os filhos: "interferir no processo de desenvolvimento do ser humano, imprimindo uma direção." Difícil por que não temos uma formação apropriada e definida para ser pais.
Acontece e, não mais que de repente, mesmo que programado e desejado, temos um filho para ajudar a se desenvolver, ocupando o seu espaço na sociedade. Educar um filho, já vimos, não é construir naquela criança um homem. É permitir que ela se construa e se torne, por seus próprios passos, um ser realizado e feliz.
Para essa missão difícil dispomos de uma ferramenta muito importante – INDISPENSÁVEL: A Família. Mãe + Pai + Filho + Amor = Grande possibilidade de pessoa saudável!
A família é uma instituição que deve ser construída com responsabilidade, com amor e com maturidade. A maturidade não é um estado comportamental ou de espírito, que se adquire numa determinada idade, e, quando a alcançamos, consideramos que somos possuidores dela.
"A maturidade é um processo de evolução gradativa, baseada no desenvolvimento do conhecimento e da sensibilidade. Isto pressupõe uma percepção ativa e sensível; capacidade de analisar, avaliar, discernir; coragem de formular e, se for o caso, reformular opiniões; constante disposição de aprender, desaprender e aprender de novo. Assim como a vida é movimento, um constante nascer, crescer e morrer para renascer, a maturidade é um processo contínuo de vir a ser." O ser humano nunca está pronto. Maduro. Completo.
Crescer no processo de maturidade exige elementos importantes como atenção para os ensinamentos que a vida oferece, respeito pelo processo de maturidade do outro, disponibilidade para mudanças e para fatos novos, identificar e aceitar as limitações próprias e do outro, individualidade do educando... Quantas vezes contribuímos para a deformação do auto-conceito de nossos filhos fazendo julgamentos nada construtivos como "você é mentiroso", "você não dá conta", "você é burro", "você é feio", " "vou contar para o seu pai". Estamos contribuindo para formar um homem complexado, medroso, deformado e infeliz.
O nosso filho vai atingindo novos níveis de maturidade, à medida que aperfeiçoa o equilíbrio entre o físico, o emocional, o conhecimento e o espiritual. A interiorização, a reflexão, a introspecção são caminhos que nos levam ao auto-conhecimento, indispensável qualidade da maturidade.
Portanto, meu estimado amigo, o casal tem que investir continuadamente na construção de uma maturidade individual e a dois para gerar um ambiente propício de desenvolvimento saudável para os filhos.
Existem atitudes que dificultam o bom relacionamento que precisam ser identificadas e combatidas:
O ciúme e inveja – resultantes da insegurança;
O comodismo e a omissão – resultantes da falta de amadurecimento que leva a ficar centrado em si mesmo, egoisticamente. Isto o afasta da participação ativa na vida diária da família;
Autoritarismo de um dos cônjuges – quando quer impor sua vontade acima da dos outros, desvalorizando a opinião ou posição dos demais;
Temos que estar atentos para fomentar atitudes que facilitam o bom relacionamento do casal, tais como:
Domínio de si – procurar o auto-conhecimento com a vontade de crescer, de ser melhor. Estar atendo para identificar as próprias limitações para não se tornar vítima delas;
Amar o outro pelo que ele é – enxergar o outro como ele é e não como eu gostar que ele fosse; amá-lo com suas virtudes e com suas limitações.
Abrir-se para o outro – permitir o diálogo com o outro. É uma oportunidade de troca informações e também uma atitude que permite ao outro oportunidade de conhecer o seu íntimo, o seus sentimentos, as suas expectativas.
A educação dos filhos, meu amigo, é uma tarefa a dois e, para que isso se torne real, são necessárias algumas ações tais como:Aceitar que a tarefa de educar seja realizada a dois – nunca encobrir do outro atitudes tomadas com os filhos como se temesse a reação do outro. Permitir que o outro participe integralmente de todas as ações de educar o filho.
Reconhecer a interdependência como único meio de uma evolução global – Lembre-se: a família não é só a célula "mater" da vida biológica, mas também, revela-se como o mundo em miniatura, com sua multiplicidade de tipos, aptidões, limitações, interesses, objetivos, oposições, contradições e gerações.
O casal deve ter um objetivo claro para a sua vida familiar, como por exemplo:
Acumular um patrimônio material que dê segurança para o futuro;Conquistar diplomas – convém que os filhos concluam cursos superiores ou técnicos que lhes dêem segurança no mercado de trabalho;
Ser intelectual, fomentar o estudo, a cultura, o conhecimento;
Ser destaque, famoso na arte, na política, no esporte, na sociedade;
Ser feliz, criando uma família aberta, participante, irradiando sua felicidade para todos;
Espiritualidade – estimular a indispensável ligação entre a criatura e o Criador.Importante: A maturidade dos pais permite a sensibilidade e a percepção necessárias para detectar as capacidades potenciais físicas, emocionais, espirituais e sociais da criança permitindo o seu desenvolvimento pleno.
Que fique claro, meu amigo: se educamos os nossos filhos para que sejam felizes, não pode faltar o ingrediente mais importante: o AMOR!


*Referência: Educar, um desafio. Escola de Pais do Brasil.

*O autor é médico na cidade de Dourados – Mato Grosso do Sul – O Estado do Pantanal – PN.www.jajah.med.br / jajah@jajah.med.br

quarta-feira, 22 de julho de 2009

“A família precisa fornecer noções básicas de civilidade”





Professor Joe Garcia, doutor em Educação e especialista em indisciplina da Universidade Tuiuti do ParanáA falta de limites na sala de aula é o foco das pesquisas do doutor em Educação e especialista em indisciplina Joe Garcia há mais de uma década. O professor do Mestrado em Educação da Universidade Tuiuti do Paraná adiantou ontem pontos da palestra que deve apresentar amanhã, no 10º Congresso da Escola Particular Gaúcha:

ZH – Quais são as causas da indisciplina?

Joe Garcia – Há causas externas e internas à escola. Entre as externas, três se destacam. A primeira é a violência social. Num mundo cada vez mais violento, as pessoas vão ficando menos solidárias. Isso está sendo observado nas escolas e tem muito a ver com a indisciplina. Outra causa externa é a influência da mídia, que está mexendo na visão de mundo e no estilo de vida dos jovens. Para os professores, é difícil lidar com toda essa variedade de expressões culturais. A terceira causa é o ambiente familiar. Estudos mostram que a participação da família no processo educacional é fundamental. Ela não precisa fazer o trabalho da escola, mas tem de assumir o papel de torcida organizada e dar noções básicas de civilidade.

ZH – E quais são as causas internas da indisciplina nas escolas?

Garcia – A primeira delas é a qualidade do currículo. Se a escola tem um currículo desatualizado, fica difícil para professores e alunos. Muitos jovens usam a indisciplina para comunicar aos professores que as práticas pedagógicas são ruins. Um dos grandes desafios da escola moderna é conseguir ser desafiadora. Às vezes, as aulas são menos desafiadoras do que um jogo de videogame.

ZH – O que os pais podem fazer para frear a indisciplina?

Garcia – Até certo ponto, a culpabilização da família é verdadeira. O que vemos hoje são adultos com a agenda lotada e com o dia basicamente caótico. Nós, pais, precisamos desenvolver maior interesse pela vida escolar dos nossos filhos. Precisamos estar mais presentes. É importante de vez em quando folhear os livros deles para valorizar os estudos e ir com eles a livrarias para mostrar que o conhecimento é algo interessante. São coisas simples e que não custam tão caro.

domingo, 19 de julho de 2009

Família em Campo



Praticar exercícios físicos com os filhos fortalece os laços afetivos da família.
Jogar futebol com a garotada é uma boa maneira de aprofundar os laços entre pais e filhos. Além dos benefícios físicos da atividade e da oportunidade de estimular o prazer pelo esporte em seus filhos, desde cedo, os pais podem aproveitar o momento de descontração para passar importantes exemplos.
“Uma criança que está aprendendo a chutar a bola, por exemplo, pode se irritar ao errar repetidas vezes. Nestas horas, os pais têm a chance de lembrá-la que eles também cometem erros e perdem gols. Isso vai ajudar seu filho a minimizar sua frustração e entender que ninguém é infalível”, orienta a psicóloga infantil e terapeuta familiar, Suzy Camacho.
De acordo com a especialista, crianças que praticam exercícios na infância têm mais propensão a reproduzir na vida adulta os valores aprendidos pelo esporte, como dedicação e respeito. A seguir, ela destaca uma série de aspectos emocionais ligados esporte e as razões para investir nele.
1. Criar vínculos afetivos. Um esporte como o futebol, por exemplo, exige trabalho em equipe e isso ajuda a tornar as relações mais próximas entre pais, filhos e irmãos.
2. Reforçar a noção de respeito. Ensinar seu filho a chutar, por exemplo, exige confiança e paciência durante o processo de aprendizado.
3. Trabalhar os conceitos de fracasso e persistência. Ao jogar com seu filho, não deixe de pontuar os erros dele, mostrando que nem sempre o aprendizado é rápido e sem tropeços.

Fonte: Nestlé

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Educação de qualidade começa bem cedo




“Uma criança de 8 anos que recebeu estímulos cognitivos aos 3 conta com um vocabulário de cerca de 12.000 palavras - o triplo do de um aluno sem a mesma base precoce. E a tendência é que essa diferença se agrave. Faz sentido. Como esperar que alguém que domine tão poucas palavras consiga aprender as estruturas mais complexas de uma língua, necessárias para o aprendizado de qualquer disciplina? Por isso as lacunas da primeira infância atrapalham tanto” - James Heckman, economista da Universidade de Chicago, ganhador do Prêmio Nobel, em entrevista à revista Veja, 10 de junho de 2009.

Se alguém tem dúvidas ou questionamentos quanto à importância da educação nos primeiros anos de vida, nada melhor que dados e números para comprovar este fato. Partindo desta premissa, ou seja, a de que dados e estatísticas comprovam ações e práticas em educação e programas sociais, o economista James Heckman, defende não só a importância da Educação Infantil e dos primeiros anos do Ensino Fundamental, mas também o valor da participação, incentivo e proximidade da família no processo de formação das crianças.

A diferença existente entre uma criança estimulada, e neste caso é preciso considerar como bases de estímulo tanto à escola quanto à família, equivale a possuir um acervo de palavras que é, no mínimo, três vezes maior do que aquelas que não tiveram igual incentivo em seus lares e escolas. E este vácuo criado entre crianças que tiveram diferentes origens em seus processos de ensino-aprendizagem dificilmente será tirado mais tarde ou, se isto ocorrer, acontecerá a um custo que pode 60% mais caro para a sociedade, conforme dados do próprio economista James Heckman.

O preparo qualificado nas escolas, apoiado pela família, permite que a criança cresça mais rica quanto as suas bases culturais ao mesmo tempo em que lhe garante melhor saúde (emocional e física) e, certamente, repercute em suas condicionantes sociais, melhorando sua capacidade de se relacionar com as outras pessoas a seu redor. Desenvolve-se, conforme observa Heckman, não apenas as capacidades cognitivas, aquelas relacionadas ao QI (o Quociente de Inteligência), mas também as sociais e emocionais.

Sabe-se hoje que, do mesmo modo que é importante conhecer a caixa de ferramentas e utilizá-la do modo mais eficiente possível, cabe também a todos desenvolver-se quanto às habilidades relacionais, de interação social. São elas que garantem as pessoas o acesso ao trabalho, a expansão de possibilidades profissionais e sociais, o bom relacionamento em todos os ambientes que as pessoas frequentam, a capacidade de motivar-se para desafios, o controle pessoal em situações diversas.

A escola complementa o trabalho de lapidação e polimento da pedra preciosa que é uma criança ao lhe dar subsídios sociais e culturais que a inserem na sociedade em pé de igualdade com os demais seres humanos. Cabe à família, no entanto, o crucial papel de fazer com que seus filhos tenham bases de ação, pensamento e moral que lhes permita entrar na escola, literalmente, pela porta da frente. Isto significa que, se não há um trabalho de incentivo e educação anterior e paralelo ao trabalho escolar realizado pelas redes de ensino regulares por parte da família, o prejuízo para as crianças, as famílias e a sociedade como um todo é grandioso.

Reduzir este raciocínio a números pode parecer mesquinho demais, mas foi a forma encontrada para demonstrar a todos o quanto custa a um país ter uma educação desqualificada em suas bases. Em termos do mundo real, poderíamos dizer que isto significa violência, famílias desestruturadas, consumo crescente de drogas, propagação de doenças que poderiam ser evitadas, aumento dos índices de pobreza...

No que tange a importância da família, Heckman coloca em pauta a necessidade de a escola orientar os pais e demais familiares que tem contato com as crianças em idade escolar, quanto a ações e práticas que deveriam ser regularmente adotadas em seus lares para incentivar os estudos e o enriquecimento social e cultural destes infantes.

Vivemos um tempo em que os pais, devotados ao trabalho, participam menos da formação de seus filhos do que há 20 ou 30 anos. Apesar do grande acesso a informação e dados, estas famílias carecem de maior tempo e esclarecimento quanto a formas e meios de melhorar o relacionamento e incentivar seus filhos para a vida familiar, escolar e social. Neste sentido, é urgente que auxílio surja e, certamente, não existe melhor e mais qualificada instituição para este fim do que a escola.


João Luís de Almeida Machado é editor do Portal Planeta Educação, doutor em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), pesquisador e autor do livro Na sala de aula com a sétima arte.