sábado, 17 de abril de 2010


Maioria de casos de bullying ocorre na sala de aula

Luciana Alvarez - O Estado de S.Paulo

Estudo com 5.168 alunos de 5ª a 8ª série mostra que 17% são vítimas ou agressores; fenômeno se alastra pela internet

Uma pesquisa nacional sobre bullying - agressões físicas ou verbais recorrentes nas escolas - mostrou que a maior parte do problema (21% dos casos) ocorre nas salas de aula, mesmo com os professores presentes. Dos 5.168 alunos de 5.ª a 8.ª séries de escolas públicas e particulares de todas as regiões do País entrevistados, 10% disseram ser vítimas de bullying e 10%, agressores - 3% são ao mesmo tempo vítimas e agressores.

O estudo, feito pelo Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor (Ceats/FIA) para a ONG Plan Brasil, mostrou o despreparo das escolas e dos professores. "As escolas mostraram uma postura passiva para uma violência que acontece no ambiente escolar", afirmou Gisella Lorenzi, coordenadora da pesquisa.

"Em outros países, o lugar preferencial de agressões é o pátio, onde costuma haver mais alunos e menos supervisão", disse Cléo Fante, pesquisadora da Plan, especialista em bullying. Segundo o estudo, 7,9% das agressões são feitas no pátio, 5,3% nos corredores e 1,8% nos portões da escola.

A socióloga Miriam Abramovay, da Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla), diz que o resultado demonstra que o estudante não se importa com a supervisão de um adulto, pois há uma banalização da violência nas escolas. "Essas agressões não são vistas como uma violência", diz. "Em geral, os professores dizem que é brincadeira. Falta um olhar perspicaz para perceber os conflitos."

A pesquisa indicou também que 28% dos estudantes foram vítimas de algum tipo de violência dentro da escola no último ano e mais de 70% deles presenciaram agressões.

Quando se trata de agressões recorrentes, os meninos sofrem mais que as meninas: 12,5% deles se disseram vítimas, mas o número cai para 7,6% entre as garotas. O Sudeste é a região com mais vítimas de bullying - 15,5% - e o Nordeste, com a menor ocorrência (5,4%).

Rendimento. A principal consequência do bullying para a vida escolar é semelhante tanto para agredidos quanto para os agressores. A perda de "concentração" e "entusiasmo" pelo colégio foram as consequências mais citadas pelos dois lados (16,5% das vítimas e 13,3% dos agressores). "A violência na escola impede a plena realização do potencial das crianças", afirmou Moacyr Bittencourt, presidente da Plan Brasil.

Outros dados são que 37% dos entrevistados disseram que "às vezes" sentem medo no ambiente escolar e 13% afirmaram que nunca se sentem acolhidos. E, com a internet, insultos e ameaças via rede passaram a fazer parte da realidade dos alunos.

PARA ENTENDER

1. O que é bullying?
É qualquer tipo de agressão física ou moral entre pares (como colegas), que ocorre repetidas vezes nas escolas. A pesquisa considerou ao menos três vezes ao ano.

2. Qual a motivação para o bullying?
Não há motivos concretos.

Dicas para enfrentar o problema

Medo da escola
Uma criança que demonstre desconforto físico ou tristeza antes de ir para escola ou não queira participar de festas de colegas de colégio pode ser uma vítima. Procure conversar com seu filho e com representantes da escola

Novos comportamentos
Crianças que tenham mudança brusca de comportamento - eram falantes e tornam-se quietas, por exemplo - também podem estar sofrendo bullying. Pais devem ficar atentos ainda a comportamentos agressivos

Atenção e conversa
"Vítimas" e "agressores" precisam igualmente de atenção. Muitas vezes o comportamento agressivo tem motivações de insegurança e medo. O melhor caminho é mediar uma conversa franca entre os dois lados

Planos para reduzir gastos caseiros

Ana Paula Paiva - Valor Econômico



Na casa da empresária Simone Freire, conversas sobre o uso consciente do dinheiro estão na pauta do dia desde que o filho mais novo tinha cinco anos. "O lema aqui é não ser perdulário, evitar a compra de roupas de marca e avaliar a necessidade de adquirir qualquer supérfluo", diz Simone, casada e mãe de Eduardo, 21 anos; Giovana, 15 e Giulia, nove anos. A estratégia tem dado certo. Giovana acaba de voltar de uma viagem "econômica" aos Estados Unidos e Eduardo vai trocar o seu primeiro carro somente com as economias que conseguiu acumular. Além de conversas frequentes, a educação financeira da família é estimulada por uma planilha de entradas e despesas.

Segundo Simone, os filhos só conseguiram receber mesada por iniciativa da avó, a partir de 2009. Ganham de R$ 50 a R$ 150 por mês, cada um. Para ajudá-los na administração do dinheiro, montou uma planilha com as entradas e gastos mensais. "Apesar de terem mais liberdade para usar o dinheiro que recebem, não podem comprar tudo o que veem pela frente."

O filho mais velho Eduardo, estagiário em um banco há dois anos, conseguiu economizar e pagou a metade do valor do primeiro carro com o próprio dinheiro. Agora, se prepara para comprar um modelo mais novo - e vai arcar sozinho com a troca.

Segundo a psicóloga Márcia Dolores Rezende, educar financeiramente as crianças é um convite para os pais reverem crenças em relação ao dinheiro e à forma de utilizar o recurso. "Pais saudáveis financeiramente também formarão filhos saudáveis", diz. "Ao mesmo tempo, pais com postura perdulária ou de comportamento mesquinho terão grandes chances de desenvolver nos filhos crenças limitantes em relação ao dinheiro e ainda comprometerem a educação financeira da família."

Simone e o marido, que trabalha na área de seguros, finalizam a construção de uma nova casa para a família. "Discutimos com as crianças desde o preço do papel de parede que vamos usar nos quartos até o modelo dos televisores", lembra. No início do ano, a filha do meio, Giovana, preferiu uma viagem de 14 dias à Disney a uma festa de 15 anos. Levou US$ 2 mil e conseguiu comprar presentes.

Para o educador financeiro Reinaldo Domingos, o controle das finanças pode ser feito com uma reunião familiar mensal ou bimestral. "É um bom começo para que as crianças saibam que o dinheiro é um objeto de troca e que as despesas de uma casa sejam conhecidas por todos", avalia. "Quando os filhos entram nesse processo desde cedo são capazes de fazer uso consciente do dinheiro e entendem que gastar mais poderá eliminar benefícios como um presente ou uma viagem de férias."

Segundo a educadora Sílvia Alambert, uma boa alternativa para controlar os gastos caseiros é fazer um plano de economia e gastos. "Com esse hábito, fica mais fácil visualizar onde está o excedente que não permite uma vida financeira tranquila e enxergar o ralo por onde o dinheiro está escoando."

Para o consultor financeiro Márcio Nobre, fazer uma força- tarefa com toda a família para economizar em gastos essenciais como luz, água e telefone também pode ajudar a manter o orçamento doméstico nos trilhos. "A educação financeira deveria ser uma matéria básica do ensino fundamental nas escolas." (J.S.)

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Educação de quarto mundo


Lya Luft - Revista Veja - Edição 2150

"Por que nos contentarmos com o pior, o medíocre, se podemos ter o melhor e não nos falta o recurso humano para isso?"
No meio da tragédia do Haiti, que comove até mesmo os calejados repórteres de guerra, levo um choque nacional. Não são horrores como os de lá, mas não deixa de ser um drama moral. O relatório "Educação para todos", da Unesco, pôs o Brasil na 88ª posição no ranking de desenvolvimento educacional. Estamos atrás dos países mais pobres da América Latina, como o Paraguai, o Equador e a Bolívia. Parece que em alfabetizar somos até bons, mas depois a coisa degringola: a repetência média na América Latina e no Caribe é de pouco mais de 4%. No Brasil, é de quase 19%.
No clima de ufanismo que anda reinando por aqui, talvez seja bom acalmar-se e parar para refletir. Pois, se nossa economia não ficou arruinada, a verdade é que nossas crianças brincam na lama do esgoto, nossas famílias são soterradas em casas cuja segurança ninguém controla, nossos jovens são assassinados nas esquinas, em favelas ou condomínios de luxo somos reféns da bandidagem geral, e os velhos morrem no chão dos corredores dos hospitais públicos. Nossos políticos continuam numa queda de braço para ver quem é o mais impune dos corruptos, a linguagem e a postura das campanhas eleitorais se delineiam nada elegantes, e agora está provado o que a gente já imaginava: somos péssimos em educação.
Pergunta básica: quanto de nosso orçamento nacional vai para educação e cultura? Quanto interesse temos num povo educado, isto é, consciente e informado - não só de seus deveres e direitos, mas dos deveres dos homens públicos e do que poderia facilmente ser muito melhor neste país, que não é só de sabiás e palmeiras, mas de esforço, luta, sofrimento e desilusão? Precisamos muito de crianças que saibam ler e escrever no fim da 1ª série elementar; jovens que consigam raciocinar e tenham o hábito de ler pelo menos jornal no 2º grau; universitários que possam se expressar falando e escrevendo, em lugar de, às vezes com beneplácito dos professores, copiar trabalhos da internet. Qualidade e liberdade de expressão também são pilares da democracia. Só com empenho dos governos, com exigência e rigor razoáveis das escolas - o que significa respeito ao estudante, à família e ao professor - teremos profissionais de primeira em todas as áreas, de técnicos, pesquisadores, jornalistas e médicos a operários. Por que nos contentarmos com o pior, o medíocre, se podemos ter o melhor e não nos falta o recurso humano para isso? Quando empregarmos em educação uma boa parte dos nossos recursos, com professores valorizados, os alunos vendo que suas ações têm consequências, como a reprovação - palavra que assusta alguns moderníssimos pedagogos, palavra que em algumas escolas nem deve ser usada, quando o que prejudica não é o termo, mas a negligência. Tantos são os jeitos e os recursos favorecendo o aluno preguiçoso que alguns casos chegam a ser bizarros: reprovação, só com muito esforço. Trabalho ou relaxamento têm o mesmo valor e recompensa.
Sou de uma família de professores universitários. Exerci o duro ofício durante dez anos, nos quais me apaixonei por lidar com alunos, mas já questionava o nível de exigência que podia lhes fazer. Isso faz algumas décadas: quando éramos ingênuos, e não antecipávamos ter nosso país entre os piores em educação. Quando os alunos ainda não usavam celular e iPhone na sala de aula, não conversavam como se estivessem no bar nem copiavam seus trabalhos da internet - o que hoje começa a ser considerado normal. Em suma, quando escola e universidade eram lugares de compostura, trabalho e aprendizado. O relaxamento não é geral, mas preocupa quem deseja o melhor para esta terra.
Há gente que acha tudo ótimo como está: os que reclamam é que estão fora da moda ou da realidade. Preparar para as lidas da vida real seria incutir nos jovens uma resignação de usuários do SUS, ou deixar a meninada "aproveitar a vida": alguém pode me explicar o que seria isso?

Horário das escolas não atende rotina de pais

Mariana Mandelli e Luciana Alvarez - O Estado de S. Paulo

Mães recorrem a parentes ou pagam alguém para ficar com crianças até chegarem em casa Para cumprir os compromissos do dia a dia, a nutricionista Rita de Cássia da Conceição, de 44 anos, depende da cooperação de seu pai, da empregada da casa e da escola onde deixa os filhos, Vitor e Pedro, de 6 e 8 anos, na parte da manhã. Os meninos estudam à tarde, mas ficam nessa outra escola no período matutino porque Rita não tem onde deixá-los - ela trabalha das 8 horas às 21 horas.
"De lá, eles vão para o colégio e, no fim do dia, meu pai busca e deixa os dois em casa, porque pago a empregada para ficar até as 22h", conta. O problema de Rita é comum para quem trabalha até tarde e ainda enfrenta obstáculos como trânsito, rodízio e chuvas, que atrasam a vida nas grandes cidades.
O horário de funcionamento das escolas muitas vezes não é compatível com a rotina dos pais. "Com a entrada da mulher no mercado de trabalho, os pais têm de constituir outra forma de organização familiar", afirma Ida Kublikowski, professora de psicologia clínica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Segundo ela, cada família deve achar as soluções que melhor se encaixem na rotina. "Normalmente é a mãe que resolve isso."
Sheila Mostaço, por exemplo, largou a carreira de organizadora de eventos, em que às vezes trabalhava até de madrugada, e voltou para a faculdade. Formou-se em Pedagogia e, hoje, quando sua filha Yasmin sai da escola às 17h30, as duas voltam juntas para casa.
Já a dentista Patricia Gemignani, de 29 anos, recorre aos pais. Ela não consegue sair do consultório antes das 20 horas e a escola onde estuda a filha Isabelle, de 4 anos, fecha às 17 horas. "A essa altura da vida, meus pais poderiam viajar e passear, mas acabam abrindo mão disso por minha causa."
Na escola que Elizandra Ariza deixa Arthur, de 1 ano e 2 meses, quem chega atrasado para buscar o filho desembolsa R$ 1 por minuto, para pagar a hora extra das berçaristas. Até agora, ela conseguiu se organizar para chegar até as 18h30. Mas foi preciso uma adaptação. Antes de ser mãe, sair do trabalho às 21 horas era rotina. Hoje, ela entra uma hora antes e também trabalha de casa.
CUSTOS
Diretores de escolas afirmam que os custos de manter a estrutura funcionando até a noite são altos. "Teria de aumentar em 20% meu corpo pedagógico e arcar com alimentação, para atender com qualidade", afirma Wagner Sanchez, diretor do Colégio Módulo, onde as aulas acabam às 17h40. Algumas escolas, porém, oferecem períodos maiores de permanência. A Villacor, na zona sul, trabalha com o integral estendido, de 13 horas. A maioria dos bebês sai por volta das 20 horas, segundo a diretora pedagógica Rosângela Castilho.