sábado, 19 de setembro de 2009

Paciência em Falta


ROSELY SAYÃO - Folha de S. Paulo


A ideia de ter filhos hoje é absolutamente sedutora. Tornar-se mãe ou pai é um fato que nunca pareceu tão importante porque é visto como modo de se realizar, de se completar, de cumprir uma missão importante. Não é à toa que tantas mulheres recorrem a procedimentos médicos diversos para conseguir engravidar. Definitivamente, consumimos a ideia de que ter filhos é fundamental.

O período de gestação é cercado de acontecimentos que se parecem com pequenas festas para os futuros pais. Compras dos mais variados tipos, durante meses consecutivos, são consideradas indispensáveis: além do enxoval para o bebê, há as vestimentas para a futura mãe, que, em geral, não vê a hora de exibir sua condição.

Aliás, um bom exemplo de como exibir a gravidez é tão importante quanto estar grávida são as entrevistas, as fotos e o modo de se apresentar de artistas que esperam um filho. Além das compras, são contratados vários prestadores de serviços e um aparato médico-hospitalar que inclui muitos exames -e não me refiro aqui ao essencial, que constitui o pré-natal.

Depois do nascimento, a cortina desce progressiva e vagarosamente e o clima de festividade cede espaço à realidade: ter filhos, o que exige cuidar deles e educá-los, dá trabalho. Um trabalhão, por sinal. Nos primeiros anos, são noites maldormidas, trabalho braçal árduo, atenção constante e o contato com um universo radicalmente diferente do nosso: o mundo da imaginação e da fantasia.

Além disso, ensinar a criança a estar com os outros não é tarefa simples porque os pequenos não se controlam e, portanto, por mais que entendam as ordens e orientações dos pais, precisam ser seguidos de perto e contidos sempre.

Na segunda parte da infância, os pais precisam começar a exercitar o desprendimento em relação aos filhos, já que eles precisam crescer e a vida escolar é o campo onde isso ocorre de modo privilegiado. Na adolescência, os pais são testados continuamente e não podem abandonar seu papel até que o filho amadureça, de preferência como uma pessoa de bem, para viver por conta própria.

Todo esse processo exige, mais do que qualquer outra coisa, muita paciência. Aliás, creio que essa seja a virtude mais necessária a quem tem filhos. E, do mesmo modo, a que tem estado mais em falta atualmente. Os pais têm tido pouca paciência com as manifestações próprias da criança pequena, com o crescimento do filho -que tem um ritmo próprio-, com as contestações dos adolescentes. Acreditam que os filhos os fazem insistir demais nas mesmas coisas.

Pois os pais precisam saber que, por mais ou menos 18 anos, irão repetir as mesmas coisas. "Ainda não" e "agora chega" condensam as mais importantes repetições; mudam apenas os conteúdos delas, de acordo com a idade dos filhos. Os pais não podem dizer que não têm paciência no exercício de seu papel. Quem tem filhos precisa desenvolver essa virtude a qualquer preço. Sem ela, os mais novos ficam na situação de órfãos de pais vivos.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Convivência familiar



A educação de jovens e crianças passa por três segmentos: a família, a escola e a comunidade, que são instituições fundamentais na formação do cidadão e na sua preparação para o trabalho. Dessa forma, sendo a família a primeira escola do ser humano, é responsabilidade dos pais suprir necessidades básicas de seus filhos, formar atitudes e valores. A função da família é fundamental para a formação do futuro cidadão, preparando-o para a vida e para o trabalho. A família deve ser a base e a principal colaboradora das atividades desenvolvidas pela escola na comunidade. A Constituição Federal determina que é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária... (Art. 227). Portanto, cabe aos pais orientar, assistir e educar seus filhos, tendo a convivência familiar como um importante instrumento para o desenvolvimento do ser humano. Nesse contexto, na agricultura familiar, tem-se um exemplo bem claro da importância da convivência familiar na educação da criança e do adolescente. A convivência é, sem dúvida, a estrutura fundamental da família, e este direito deve ser preservado e usado para a formação moral e ética do grupo familiar. E nessa formação está a preparação para o trabalho, item fundamental para a formação de um cidadão consciente. A tarefa da família de preparar para o trabalho deve ser vista e executada como uma atividade de educação, onde os pais têm o compromisso de passar o seu conhecimento, levando em consideração os aspectos culturais e sociais da sua comunidade. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) diz que é proibido qualquer trabalho a menores de quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz (Art.60). Ensinar a trabalhar não é o mesmo que colocar a trabalhar, pois entende-se como trabalho infantil aquele que a criança faz para garantir o seu sustento ou de sua família, e, por isso, tem características de trabalho continuado, comprometedor da frequência escolar e da aprendizagem, das possibilidades de fazer coisas de criança, da saúde e do desenvolvimento físico e psicológico. Com base nisso, entende-se que toda a atividade desenvolvida por uma criança ou um adolescente que não prejudique sua estrutura física ou psicológica, que não prejudique a aprendizagem e que possibilite à criança fazer coisas de criança e não seja caracterizado como trabalho continuado, pode ser considerado como educação familiar e preparação para a vida. Portanto, é com base neste conceito que a convivência familiar torna-se um fator importante para a formação da criança e do adolescente. (continua) José Leon Macedo Fernandes/Biólogo, mestre em Desenvolvimento Regional, coordenador pedagógico do Projeto Verde é Vida da Afubra